quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Sai Zeitona, entra Malagueta

Pra início de conversa, nunca gostei muito de dirigir. Tenho carteira desde os 19, mas como sempre tive alguém pra fazer as vezes de motorista, nunca precisei me aventurar ao volante. Minha irmã sempre dirigiu o carro do meu pai e nas suas andanças, sempre retornava, aliado aos amassados da lataria, com algum prejuízo ao bolso paterno. Diante deste fato, como toda boa filha e samaritana, prometi a mim mesma que só dirigiria o meu próprio carro (silêncio). Vivi tantos anos na dependência dos outros que hoje não acredito como pude andar tanto tempo à pé.
Meu primeiro carro (apesar da minha contribuição neste caso ter sido restrita ao financeiro) se chamava Alfredinho. Tive outros e muitos outros, alguns nunca dirigi, outros viraram parte do meu apartamento - mas o carro que foi MEU mesmo, filho de pai e mãe, com o mesmo sobrenome, foi o Zeitona.
Esse pequeno guerreiro verde de quatro rodas foi um dos grandes pilares para a definitiva conquista da minha independência. Zeitona me fez entender que eu era capaz de domar a máquina, que eu podia sim, acelerar, debrear, frear, passar a marcha, olhar nos 3 retrovisores, ligar as setas e ainda verificar se o rímel não havia borrado, no “ quick make up ” durante o sinal fechado.
Zeitona me carregou pro mundo. Me levou pra Lapa nas noites de sexta, me levou ao shopping e ao cinema, e à árdua tarefa mensal de ir ao supermercado. Já saiu abarrotado de doações pros desabrigados das enchentes e foi o primeiro a me fazer pegar a estrada, durante o carnaval de 2009. Zeitona me levou, nas madrugadas da vida, atrás das emergências pediátricas do Rio, e me fez até reaprender matemática, na ânsia pelo entendimento do estranho cálculo da porcentagem limite do excesso de velocidade, e a soma dos pontos que a gente perde na carteira por esses mesmos excessos.
Se Zeitona tivesse piloto automático ele subiria a Grajaú-Jacarepaguá de ré. Ele conhece cada curva, cada buraco, já desvia automaticamente dos cachorros que insistem em brincar no meio da pista. Zeitona já passou vários sufocos na Grajaú - pneus furados e enchentes - e esteve sempre lá, firme e forte, quase um gladiador. Ele foi o meu mais fiel companheiro nesses quase dois anos de convivência.
Agora, Zeitona pertence a outra família. Ainda bem que é uma família do bem, com princípios, que vai tratá-lo com o carinho que merece, que já o adotaram como filho. Zeitona fará meus amigos felizes, tenho certeza, e os levará a vivenciar novas e incríveis aventuras pelas estradas da vida.
Dizem que carro bom é aquele que nos leva pra onde quisermos.
Zeitona não era bom, Zeitona era ótimo.
Zeitona só não me levou pra Lua.

Pros que, assim como eu, sentirão saudades: Michele, Cleide, Sil, Pedro, Paula (com e sem Miguel), Ana Cristina e Marcão – Malagueta ta na área.
E como diz o Beto: o meu fraco é um horti-frutti.

2 comentários:

  1. Amei este texto!!!!
    Nunca pus nome em nenhum carro, mas todos foram importantes na minha vida e eu os tratava como membros da família... E SEMPRE, sempre mesmo, eu me pegava chorando ao me separar de um deles... Era quase que uma traição... sei lá!! VAi entender!!!
    Texto GENIAL!!!!!
    Parabéns!!!!

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  2. Gostei!!! Zeitona é ótimo! Muito engraçadoOoO!

    Malagueta é mais difícil de sair do que Zeitona. *sem caroço claro!

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