terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Maluca sim, e daí?


Sábado passado foi a festa de final de ano da creche do Frederico. Já sabíamos, através do nosso grupo secreto de investigação materna, que a música a ser apresentada era a “O barquinho”, da Maysa. Frederico, inclusive, já havia me deixado chocada – e orgulhosa, obviamente – ao cantarolar bossa nova dentro do carro, dia desses, voltando pra casa. Já havíamos gargalhado muito – nós, as mães do Pré I – após todas aquelas discussões sobre os custos da creche e pagamentos extras, com o recebimento da circular sobre a confecção da “cabeça-barco-de-espuma”, e todas as elucubrações decorrentes do fato, que culminaram no Grêmio Recreativo Bloco de Rua “Loka é a mãe, eu sou Napoleão”, promessa de folia certa no carnaval 2011.
Lá fomos nós, estrear nossas tão faladas camisetas, num misto de ansiedade e excitação pela sonhada apresentação dos nossos filhotes. Maravilhadas pelas apresentações que antecederam, vendo pequenos tão mais pequenos que os nossos – como eles todos um dia foram – nos encantando, nos fazendo rir, e para aquelas mais emotivas, nos fazendo também chorar.
Além de bobas, nos descobrimos cantoras, entoando, num uníssono desafinado, aquela velha canção da Arca de Noé da nossa infância, quando o som da festa resolvia dar pane. Como foi bom ver aqueles pirralhos representando num palco, enquanto a gente embalava em coro um “venham ver como dão mel as abelhas do céu”...
Cadê a Cris que ainda não chegou? Liga pra ela, avisa que a apresentação já tá começando... Putz, não acredito que a Cíntia esqueceu de levar a camiseta... Lisandra e a sua incrível matemática dos gêmeos, conseguiu me deixar confusa...
Nervosas, estávamos todas em conjunto, pelas nossas Anas. Ana Cristina sobe pra ler poema de crianças, Ana Bochecha e seu silicone importado nos cabelos, pra declamar sobre sonhos e barquinhos de papel. A outra Ana, aquela nos recebe todos os dias, foge dali pra trocar o uniforme da creche, e exibe sorridente a sua camiseta, aderindo também a toda aquela louca manifestação de orgulho.
Mãe com M maiúsculo fala no microfone, paga mico, sobe no palco, explana seu amor de forma desavergonhada. Mãe com orgulho fica ali na beirinha, babando as crias, enquanto os pequenos se exibem e – finalmente – se apresentam. Coreografia, sambinha, chapéu de barco, bossa nova. Muita coisa pra se dizer e se sentir numa apresentação apenas.
Indescritível perceber aquele sorriso tímido do meu Frederico, assim que me descobre naquela platéia repleta de mães ensandecidas.
Ainda me emociono com o poema da minha amiga Ma, e minha linda Cacá desfilando no calçadão como a Garota de Ipanema. Acho que tava meio impossível daquele sorriso bobo sair do meu rosto naquele dia.
E quando a gente acha que acabou, vem a canção de Natal. Como disse Bochecha, ver a galerinha cantando Xuxa foi apelação. A escola toda no palco, fazendo coral, não tem rímel à prova d’ água que dê jeito. Chorei. Chorei muito. Mesmo com a Fer me cutucando do lado, dizendo que era pra eu não perder a pose. Nunca escondi de ninguém que sou mulherzinha mesmo.
No final da festa, todas com os barcos na cabeça, momento de terapia em grupo. Análise sobre o que foi mais mico na vida de cada uma delas: andar de perna de pau, dirigir kombi ou ir no programa da Xuxa? E o assunto, regado a pipoca, mini-pizzas, sorvetes e refris, passou de traumas de infância e palhaços, pra combinação de passeios, discussão sobre educação e novas escolas, e a importância de se dar continuidade aquela amizade tão legal que surgia entre os pequenos.
Percebi, anestesiada, que estar ali, com as mães e os pais dos amigos do meu filho,  naquele "dia de luz", naquela "festa de sol", me fazia um bem danado. E que naquele momento, além daquela apresentação magnífica, eles – nossos filhos – também nos presenteavam uns aos outros. Gostosa aquela sensação de estar entre iguais, no meio daquele pandemônio todo, rindo, trocando experiências, enquanto observávamos nossos filhos correndo, suados, exaustos, pelo pátio da escola.
Que amanhã, quando “seremos” Pré II (parafraseando Frederico) , estejamos compartilhando mais aventuras, mais afetos, mais camisetas, mais barcos de espuma, mais maluquices.
Afinal, como disse a Vane no microfone e como a estampa da nossa camiseta, somos todas mães malucas, sem nenhuma modéstia.
Malucas completamente, acrescento. Malucas pelos nossos filhos.

Para todas as mães malucas do Pré I

terça-feira, 30 de novembro de 2010

Do Rio para o mundo!


Conforme sugestão da minha amiga Carolzita, seguem alguns dados interessantes a respeito do meu blog. Como sou meio lesada, não sabia que os blogueiros tinham acesso a esse tipo de informação, mas fuxicando no meu painel de controle achei todos os dados estatísticos do 'sandrices e etc'. Muuuuuuuuuuito interessante!...

Nesta semana, “Carta para Amanda” continua liderando o ranking de acessos, com 17 visualizações – ô, povo internauta que gosta de uma baixaria...
Esse texto trash (com um total de 101 visualizações até agora) está quase barrando o post mais acessado do meu blog “Eu e o tubo” – um dos meus favoritos – que lidera as estatísticas com a marca impressionante de 107 visualizações em toda a sua existência.
No total, desde a sua criação em agosto de 2010, o blog conta com 24 fiéis seguidores e mais de 1.600 acessos. Pra alguém que só queria publicar alguns textos, sem nenhuma outra pretensão, até que tá bom, né? Os sites de referência às minhas 'sandrices' são, principalmente, meu perfil do Orkut, meu perfil no Facebook e – pasmem! – pela busca do Google.
Curiosamente, o blog é também encontrado através de busca pela imagem dos três mosqueteiros – post em homenagem aos meus melhores amigos de faculdade. Alguém algum dia digitou na busca do google algo como “imagens de box embaçado no banho das crianças” e chegou até o divertido “Hora do Banho”, em que Frederico declara abertamente seu amor por um super-herói em detrimento a todo meu amor materno. Alguns só procuram por 'sandrinha maia' e voilá, estão no meu blog.
Agora, o mais fantástico: tenho leitores em quase todo o globo – meus textos já foram apreciados (ou não) por leitores worlwide: EUA, Austrália (aê, Chris!), Portugal, Suíça, Rússia, Holanda, Espanha e até na Noruega (valeu, Tide! rs).
Lá também se pode saber sabe se o navegador utilizado foi o Internet Explorer, ou o Mozzilla, e vcs podem imaginar mais o que essas santas estatísticas podem dizer....Inclusive enquanto vc está lendo meu blog AGORA, as estatísticas me dizem – in real time.
Não é incrível?
Então, entra, puxa uma cadeira, senta e fica à vontade.
Aqui vc tá em casa.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Terapia Ortodôntica (Amores possíveis)

Este post nasceu no exato momento que minha dentista me disse: “Não existe verdade absoluta, a verdade é sempre relativa. Você pode defender a sua opinião, mas não pode impor a sua opinião como verdade.” Just perfect!

Hoje foi dia de ortodontia. Minha dentista, gente boníssima, mineira daquelas que sempre te recebem com um sorriso no rosto, estava com um semblante mais sério e rugas na testa – envolvida nos problemas amorosos dos filhos. “Filhos criados, problemas dobrados”, ela me disse. “Ainda mais filho homem”, completou, me fazendo refletir quais problemas Frederico poderia me trazer no futuro, rsrsrs. E durante alguns minutos de filosofia, entre equipos e aberturas de aparelhos, ela me presenteou com sua sabedoria e tagarelou muitas coisas que se encaixam e fazem todo sentido para o momento que ando vivendo. E o consultório, num passe de mágica, transformou-se num acolhedor ambiente para terapia. E as histórias – dos seus filhos e de tantas outras pessoas que conhecemos – foram vindo e me fizeram recordar muitas outras tantas estórias incríveis de amor que conheço.

Entre as que vos relato, está a que ela me presenteou nesta manhã. As outras, também verídicas, são de pessoas próximas. Todas elas são tão inacreditavelmente belas que ainda hoje me questiono porque será que este grande piadista – o autor deste estranho livro da vida – faz seus personagens percorrerem as maiores distâncias para enfim alcançarem a tão sonhada felicidade...



Ela abriu a porta e saiu de casa com a roupa do corpo, pra nunca mais voltar. Um passo enorme para os seus trinta e poucos anos de menina, mas ela não podia conviver mais com aquela infelicidade, com a vontade não correspondida de ser mãe, com o egoísmo e a visão individualista do outro. Foi o mais doloroso e difícil passo em direção a sua felicidade, mesmo ela ainda não sabendo. E foi naquele mesmo ano que ele, cansado de procurar o amor e não achar, cansado da frustração de não amar, decidiu visitar a cidadezinha no interior do Mato Grosso onde havia passado a infância, enquanto ela iria passar o carnaval na Chapada. E o destino – aquele piadista da introdução deste post - os coloca lado a lado no avião, e a faz sentar por engano no lugar dele. Somente aquele trecho de um curto bate-papo, e uma despedida sem muita informação durante a conexão, e veio a vontade de ficar mais, de saber mais, de estar mais, perdida naqueles olhos verdes. Acabava ali aquele devaneio - seria humanamente impossível se encontrarem novamente. Mas, como a tecnologia age (quase sempre) em favor da humanidade, a amiga que a acompanhava naquela que seria quiçá a viagem mais importante da sua vida, o encontra na comunidade do Orkut que levava o nome daquela cidadezinha do interior do Mato Grosso... E após as investidas e a inquietude dessa amiga, pós-graduada naquele cursinho de cupido por correspondência, eles finalmente se encontram... e se apaixonam...
Pode-se perceber a força daquele amor novo tão sereno, embalado pela canção daquela estória inimaginável, enquanto os dois deslizam pra fora da capela onde foi celebrado o casamento. E ainda, depois de algum tempo, aquela felicidade conquistada – que começou de forma tão dolorosa com aquele primeiro passo – continua estampada no seu rosto de menina, enquanto embala um gordo bebezinho com nome de anjo que distribui sorrisos pra todos que passam...
 
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Eles eram iguais. Se não iguais, bem parecidos. Custaram a perceber isso. Viveram muitos anos lado a lado, compartilhando apenas aquela afinidade invisível e incomum que une os iguais. Cada um com seus projetos de vida, suas concretizações e seus amores. Não havia nada além daquela invisível sintonia, quando de repente, como um fio desencapado que desencadeia um curto-circuito, se perceberam. Foi apenas um toque e um olhar – olhar verdadeiro, daqueles de fundo de olho – pra entender o quanto sempre se pertenceram. E a presença de um na vida do outro foi algo tão incrível, tão perfeito, tão forte e tão intenso, que mesmo durante aquele curto tempo, aquele amor foi capaz de destruir tudo o que existia em volta: convicções, casamentos, noivados, estruturas, amizades, projetos... Por isso mesmo o amor deles não era possível. Não podia ser. Ela, se não foi por covardia, foi por coragem, fugiu... e foi viver sua vida, onde foi feliz, se casou, teve filhos... ele também se reconstruiu e seguiu adiante. Cada um deu seu jeito de anular o que havia acontecido, até que toda aquela fúria fosse esquecida em suas lembranças. Ela, na urgência de esquecê-lo, havia recorrido ao ódio. Ele havia apenas a deixado cair no esquecimento...
Foram necessários dez anos de ausência pra que um dia nosso autor resolvesse que já era o bastante - aquela estória que havia sido tão verdadeira e mal escrita deveria ter um final mais decente. Não era possível que um amor com aquela intensidade tivesse seu triste fim fadado ao fundo de uma gaveta.
A princípio, não havia esperança nem intenção de se encontrarem novamente. O que se buscava era apenas aquele link perdido. Mas estavam ali, lado a lado como nos velhos tempos. A alegria de estarem juntos novamente, sem rancores, sem dores, sem traumas, trouxe de volta aquela magia que existia no começo – em que eram somente iguais, e compartilhavam aquela afinidade invisível e incomum que une os iguais. E depois daquilo surgiu uma ânsia – ânsia de saber do outro, ânsia de viver em segundos tudo o que não viveram em dez anos, ânsia pra saber dos dez anos de vida do outro que perderam, naqueles poucos momentos juntos.
Mas agora eram somente os dois. Ele se queixava da solidão dos últimos anos. Ela se perguntava do porquê da sua vida não ter dado certo, mesmo com todo o afinco por ela investido.  
E lá estavam sós. Somente os dois e a lua, como testemunha.
E novamente, foi necessário somente um toque e um olhar - olhar verdadeiro, daqueles de fundo de olho – pra entender e aceitar – finalmente – o quanto sempre se pertenceram.
 
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Ele dizia, desde a adolescência, que não se casaria com nenhuma outra, a não ser ela. A família dela - tradicional, riquíssima - ao contrário, achava que ele nunca serviria. Namoraram aquele amor infantil e adolescente. Amavam-se, de forma imatura, ciumenta, egoísta, mas se amavam, era fato. Era um amor de amadurecimento, daqueles que deveriam durar uma vida. Ele chegou a largar os estudos no exterior por ela. Ela fazia tudo por ele. Ao se formar, ele queria ir pra São Paulo. Ela achava que ele deveria ficar por ali. Ele dizia que ali não havia campo pra sua profissão. E em meio a tanta incompreensão e desavenças, mesmo sabendo que o amor dos dois era incontestável, se separaram. Resolveram, após tanto tempo, cada um seguir com sua vida.
Nesse ínterim, ele conheceu a outra. Que o amava também – amava tanto que esquecia de si mesma. Amava tanto que vivia somente pra ele, pra cuidar dele, pra ser dele. Mas ele, apesar de aceitar aquele amor incondicional da outra, só pensava nela. Foi pouco tempo com a outra, porque seu coração, no fundo, no fundo, só batia por ela. Decidiu que tentaria mais uma vez.
Estava tudo combinado. A outra iria embora – sempre soubera não ser dona do seu coração – mas pediu uma noite de despedida. No dia seguinte, ela voltava pra ele, decidida a romper com a família se fosse preciso, pronta pra fazer de tudo pra conquistar de vez a sua felicidade. Aí, o destino, autor desta estória, teve uma grande idéia: durante aquela mesma semana, entre despedidas e chegadas, a outra ficou grávida. 

Ela também.
A família dela - tradicional, riquíssima - achou aquilo tudo um absurdo. Agora ele serviria para ela? Porque ela estava grávida? Não, eles poderiam bancar a filha e o neto. Ele continuava não servindo.
E a outra? Tão frágil, tão dependente, tão só... Tão desprendida, sempre tão disposta a fazer tudo por ele. E assim ele ficou... Cinco anos com a outra. Na tentativa de aprender a amá-la. Na tentativa de retribuir aquele amor incondicional que ela a devotava. Mas o amor verdadeiro, daquele que fazia seu coração bater mais forte, ele sentia mesmo por ela.
Quando se deparou com a morte do pai ele se questionou sobre a solidão. Sobre o curto tempo da vida, sobre realização, sobre felicidade. E decidiu, mais uma e pela última vez, lutar por ela. Se separou da outra. Voltou, de uma vez por todas pros braços dela.
Hoje se casam. Na igreja, de véu e grinalda. Mais por vontade da família dela
- tradicional, riquíssima - que pela vontade deles. Mas se assim for necessário, será feito. Porque o amor dos dois – tantas vezes recortado, tantas vezes prometido – finalmente, poderá ser vivido plenamente.
E ele mesmo sempre havia dito, desde a adolescência, que não se casaria com nenhuma outra.
A não ser ela.  



segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Profile


Esse texto é de 2008... escrevi, na época, pra postar como perfil no meu Orkut... Auto-definição é meio difícil, ainda mais no meu caso, geminiana de nome composto...
Bem, tô tentando resgatar meus textos antigos para postar aqui no blog. 
Meu amigo Beto costuma me dizer que sou de extremos, talvez seja verdade, rsrsrs

Eu sou assim, deste jeito...
Pra mim, não existe meio termo, ou é ou não é.
Vivo nos extremos, não sou perfeita
Ou eu amo ou eu odeio,
Ou eu quero ou eu não quero mesmo,
sem essa de “mais ou menos”, sem essa de “pode ser”
A vida é muito curta pra se viver em cima do muro...

E se eu errar, que me desculpem
Mas eu vou assumir e recomeçar
Nada de historinhas, nem teatros
Vou levantar quantas vezes for preciso
Porque sou assim: intensa, verdadeira...

E se você me quiser, pra qualquer coisa
Queira plenamente
Porque não nasci para ser metade
Eu não nasci para estar à margem
Eu sou completa, presente, inteira...

Na minha vida não existe espaço pra incerteza
Se as coisas acontecerem, beleza
Se não, eu faço acontecer

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Carta para Amanda


Momentinho trash

Primeiramente, gostaria de me desculpar aos meus leitores pelo texto meio trash-baixaria. Num momento de transgressão (e também um pouquinho de falta do que fazer), resolvi escrever este texto para uma certa pessoa – vamos chamá-la de Amanda (personagem fictício, ok? Claro, né, ninguém  acredita que existe uma pessoa tão insana assim, não é mesmo?) que numa situação hipotética  resolveu postar comentários diários nada amistosos no meu blog. Amanda me acusa de ser covarde por não publicá-los. Eu acho que covardia é usar nome fictício pra se fazer de vítima, coisa típica da personalidade de uma eterna “coitada” como Amanda...rsrsrs.
O nome deste post bem que poderia ser Amandices e etc...
Bem, de qualquer forma, depois que terminei o texto, achei divertido. Um pouco cruel – eu nunca fui boazinha mesmo – mas divertido. Definitivamente, nunca poderia ser terapeuta, pois não tenho paciência pra algumas palhaçadas...
Compartilho com vcs.

Querida Amanda,
Quantos anos mesmo você tem, hein? Ah, sim, me lembrei... Tá chegando aos 50, né? Então, Amanda, você já não é mais nenhuma garotinha... o que me faz crer que suas atitudes recentes não tenham sido movidas por conta de uma imaturidade cronológica – coisa que a gente até perdoa... Diante dos fatos, só posso concluir que se existe alguma imaturidade (ou instabilidade) por aqui, é puramente emocional.
Mas por que, Amanda? Dificuldade de lidar com as perdas? Dificuldade de lidar com a vida? Necessidade de atenção, afeto? Carência extrema? Sentimento de perda (que é bem diferente  da dor da perda, específicamente)? Ou simplesmente maluquice?
Ora, querida! Ninguém nunca te falou que o mundo não gira ao seu redor, Amandinha? Inclusive, até bem pouco tempo atrás eu nem me lembrava da sua existência... Escuta o que vou dizer: minhas atitudes e minhas escolhas não têm absolutamente NADA haver com você, aceite isso, por mais duro que isso possa parecer à sua alma egocêntrica...
Ah, sim, você pode ter se acostumado mal, pois sempre manipulou as pessoas, fazendo com que elas fizessem EXATAMENTE aquilo que você desejava... é, Amanda... te acostumaram a viver no mundo de Alice... o mundo real é um pouquinho diferente...
O que mais me impressiona é como alguém que sempre se portou como uma pessoa tão madura, tão inteligente, tão competente, tão profissional – como você, Amanda, no alto do seu pedestal – pode ter transformado a sua rotina numa obsessão ridícula em importunar a vida dos outros. É a sua “infelicidade” que realmente importa? Ou o seu incômodo é ver a felicidade alheia? É a simples constatação do seu fracasso? Ou será que o seu desespero é por não ter mais a quem manipular? Ah, meu Deus, e agora?!?
Sua justificativa, Amanda, de que tudo o que você faz é por amor – pera aí, amor a quem? amor ao seu umbigo?  – felizmente, não cola mais. Suas atitudes insanas, tampouco. Dá uma olhadinha no espelho e veja no que você se tornou – alguém que resume sua própria vida em tentar  – sem sucesso, querida, mil perdões – fazer da vida dos outros um inferno. Coitadinha de você, Amanda! Aliás, coitadinha é um adjetivo que lhe cai muito bem!...
Antes de você julgar minha vida ou a vida de quem me cerca e de quem amo, olhe pra si mesma. Vivemos a conseqüência das nossas escolhas. A gente se arrepende de algumas, mas na maioria das vezes se aprende com elas (inclusive com as não tão bem sucedidas). E pelo que sei – pois também acompanho esta estória bem de pertinho  – você não tem aprendido nada ultimamente, hein? Amanda! Você sempre teve a faca e o queijo na mão! E ainda assim conseguiu deixar a felicidade escorrer pelos dedos, garota, você estragou tudo! Que merda, hein? Quanta incompetência...
Qual o mérito que você acredita ter pra me comentar, me julgar, avaliar se melhorei ou piorei? A maternidade, por exemplo, melhora as pessoas... mas, não vou entrar nessa questão em respeito as suas pseudo-convicções, ok?
Amanda, querida, você pode continuar postando os seus comentários insanos (que mais me parecem uma tremenda dor de cotovelo) que eles continuarão sendo devidamente ignorados... se isso vai servir pra trabalhar esse seu coraçãozinho, tudo bem... Não se preocupe com as pessoas que me cercam, pois elas me conhecem, sempre fui verdadeira. Já você... talvez não te conheçam direito... mas eu consigo perceber longe a sua chantagem emocional – pode deixar que eu saberei “orientar” as pessoas a não caírem mais nas suas artimanhas...
Sem mais “delongas”, seus últimos comentários – sinceramente, como é do seu desejo – me fizeram refletir, sim. Obrigada. E a conclusão que cheguei é que o único sentimento que tenho por você é... indiferença?...
E quanto a sua preocupação extrema com a minha felicidade, um esclarecimento: eu sempre fui feliz, hoje continuo sendo e isso independe de você! Ficou chocada?Desculpa, tá? Não fique triste.
Um beijo, querida.
Durma bem.

PS: Quem “escreve” o que quer, “lê” o que não quer (mas um cursinho de português caía bem, hein? Só pra te ajudar a expressar as idéias de forma mais clara).
Ah, e nunca subestime a inteligência das pessoas. Elas não são idiotas como você sempre  achou que fossem. #fikadika

domingo, 24 de outubro de 2010

Os três mosqueteiros

E estávamos ali, os quatro novamente.
A minha esquerda, meu imperador de cabelos prateados. A ele, reservarei poucas palavras. Pra falar sobre sua vida e a minha, seria necessário um post inteiro. Ele foi o último a chegar no grupo. Posso falar sobre ele depois.
Na minha frente estava ele. O conheci na fila da matrícula da faculdade. Eu havia ficado em terceiro lugar no vestibular – ele, em segundo. O seu sorriso doce de adolescente ainda estava ali nos seus lábios, como no primeiro dia em que o vi. Ele tá usando barba, agora. Antigamente, ele raramente usava barba, seu emprego não permitia. Só o via de barba nas loucas semanas de entrega de projeto, em que nem banho direito a gente tomava. Nos encontrávamos as dez da noite na porta da faculdade com aquele aspecto “zumbi” de semanas em cima da prancheta. Ele usa os cabelos agora penteados com gel, escondendo uma leve calvície que ele teima em negar. Os anos poderiam se passar na velocidade da luz que ele permaneceria com o mesmo aspecto jovial de sempre. Agora, sempre espremido entre indas e vindas e compromissos profissionais, ele era um dos maiores exemplos que qualquer pessoa poderia ter: na vida, na carreira - teve a ousadia de quebrar padrões e enfrentar gigantes, sempre com seu sorriso doce de adolescente. Hoje, olhando pra ele sentado a minha frente, me pergunto, quando foi que eu passei a não desvendar mais a sua mente. Quando foi que perdi aquele link que tínhamos. Quando foi que aquela foto que tem no seu escritório, ao lado do seu computador, foi ficando amarelada – aquela, daquele réveillon de mil novecentos e tantos, onde eu, ele e mais o outro estamos largados nas areias de Copacabana, como em tantos outros réveillons de nossas vidas, com a aquela rosa branca nas mãos. Certamente, a minha vaidade e egoísmo de juventude haviam contribuído muito pra que seus pensamentos e sentimentos fossem se transformando em névoa e mistério pra mim. É como dizem: ninguém é tão igual a você em sentimentos mais íntimos pra entender seus pensamentos em plenitude. Eu só gostaria que ele soubesse – e tenho certeza que, no fundo, ele sabe – o quanto senti e sinto falta daquela cumplicidade que um dia compartilhamos.
A minha direita estava o outro. Esse eu conheci no vestibular. Na prova de habilidade específica, entre papéis e lápis de cores, pra ser mais precisa. Com seu jeito marrento, já começou me esnobando, e daquele momento em diante, não pude mais viver sem ele. Ele foi meu namoradinho de faculdade, meu parceiro de projeto, meu amigo, meu vizinho, meu confidente, meu padrinho de casamento. Compartilhávamos pranchetas e projetos de vida, noites em claro ao som de ”Fantasy” da  Mariah Carey, inúmeros porres, segredos e intimidades. Posso dizer que se tem uma pessoa que me conhece bem, é ele, mesmo que estejamos em pólos diferentes no hemisfério. Ele foi o cara que conseguiu traduzir, com uma frase apenas, todo sentido da verdadeira amizade. Em uma das inúmeras vezes em que eu estava fazendo merda – e não foram poucas – ele me disse: “Sandra, você vai se f#der mas, tô aqui segurando a sua mão”. Não precisei de mais nada na vida naquele momento. Só da sua mão segurando a minha.
E, como daquelas coisas inusitadas que a gente acha que nunca mais vai acontecer na vida, estávamos nós quatro, novamente, compartilhando copos de chopp, boa comida e risadas. Mesmo sendo outros projetos e outras experiências de vida - cada um com suas próprias, vivenciadas em todos aqueles anos de gap - tenho certeza que todos nós carregávamos aquela euforia e felicidade adolescente de estarmos juntos novamente.
O próximo encontro vai ser no Rio Sul, pra tomar uma taça Viena. Por que estamos com saudade da época que matávamos aula pra ir pro Rio Sul tomar uma taça Viena. Estamos com saudades das nossas noites no Trombada, nossas nights no Resumo da Ópera. Saudades das viagens a Iguaba, saudades do point da praia no Leme, dos chopps no Sindicato, das festinhas surpresa de aniversário...
Tava com saudades dos meus mosqueteiros. Tava com saudades desses momentos leves com pessoas tão importantes. Tava com saudades da minha juventude, saudades dos meus amigos. Saudades daquilo que ficou lá atrás, daquilo que compartilhamos na melhor fase das nossas vidas. Saudades de estar com pessoas tão minhas, apesar de toda a distância. E, como me disse um deles, num torpedo no finalzinho do dia que me arrancou lágrimas, saudades disso – isso tudo – que a gente não constrói com qualquer um.

Para Vito, Cores e Possi.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Tratamento VIP

Embalada nesse clima meio místico, meio "Nosso Lar", lembrei de uma história por mim vivenciada há algum tempo atrás. Longe de mim as críticas a qualquer religião. To apenas retratando aqui uma experiência que tive, como outra qualquer. Minha mente sempre foi aberta a todas a religiões e suas práticas, mas confesso que sempre fui muito mais adepta a doutrina espírita e esotérica do que as outras.
Não sou estudiosa, nem praticante, nem defensora. Sou apenas curiosa.
E como a curiosidade sempre foi inquietante em minha alma, essa constante busca do não-sei-o-quê, me faz parar uma certa vez - num desses surtos de busca de paz de espírito e consolo - num centro de umbanda branca, bastante conhecido, perto de um grande shopping no subúrbio do Rio.
E lá fomos nós, eu e minha fiel escudeira Michele, amiga de fé e irmã camarada, no intuito da tão sonhada limpeza de alma, através dos passes magníficos que este lugar proporcionava. Sempre tem alguém que diz: ah, vai sim, eu já fui lá, é muito bom!
Michele, com suas crenças espíritas bem mais enraizadas que as minhas, me confirmou a idoneidade e eficiência do lugar, pois também conhecia outras pessoas que já se haviam beneficiado daquelas emulsões de luz e energia...
Chegamos cedo, mas a fila já estava enorme. Era dia de atendimento de caboclo. Cada dia tinha uma entidade que atendia: tinha dia de vovó, de preto velho, essas coisas que não entendo. O lugar parecia uma igreja enorme, com uma grande platéia e um palco bem grande. Neste palco os mediuns trabalhavam, todos eles vestindo branco, todos eles no palco, atendendo ao mesmo tempo. Pegamos uma senha, todas felizes, afinal estávamos ali doidas pra dar um trato no nosso espírito.
Antes porém, tentando usar um pouco de educação e simpatia, fomos na sala da "gerência" pra saber como funcionava o esquema, se tinha que pagar alguma coisa, como era o trabalho que eles realizavam...
O gerente do lugar, a princípio, nos recebeu com um ar meio arrogante, meio autoritário. Não sei o que se passou na cabeça dele. Ele percebeu, obviamente, que não éramos dali. Não sei se ele achou que estávamos ali pra investigar ou testar alguma coisa. Bem, a conversa foi evoluindo e depois ele percebeu que éramos do bem e, por sermos novas e completamente estranhas naquele ninho, disse que nos daria tratamento VIP.
Lá fomos nós, eu e Michele, pro salão, no aguardo de chamada do nosso tão esperando número de senha. Tinha gente pra cacete. Muita, muita gente esperando. E nós também. A empolgação já tinha deixado o ambiente há muito tempo. Nem mais papo a gente tinha.
Já eram quase 22h da noite - detalhe, chegamos por volta das 18h - quando a pessoa que organizava as senhas, falou que era pra todo mundo subir no palco, que não ia mais seguir senha nenhuma. (como assim?)
Já estávamos exaustas, tiramos os sapatos e entramos numa fila.
Comecei a pensar que aquela limpeza deveria ser boa mesmo, visto que nós estávamos há horas esperando ali. Lá no palco, observamos os médiuns e as pessoas que eles atendiam. Tinha um coroa lá que todo mundo que ele atendia começava a dançar, meio que entrava em transe, a receber santo. Michele me disse que ele chamava pelo santo da pessoa, que ela não queria ser atendida por ele, não.
Comecei a sacanear a minha amiga, e dizer que na hora que ela fosse atendida, a pomba-gira dela iria incorporar e ela ia começar a sair rodando, e eu ia sair correndo e deixar ela ali sozinha. Ela só me dizia que não, nada haver, isso não iria acontecer mesmo.
De repente, o tal gerente subiu no palco, falou com a moça das senhas - que a esta altura também já estava dando atendimento - e apontou pra nós duas.
Suei frio.
A moça pediu pra que nós saíssemos da fila.
Falei: “Michele, f#deu. Devemos estar muito carregadas, amiga. Tiraram até a gente da fila”.
Começou aquele misto de riso e nervoso, cansaço de mais de 4 horas de espera e medo - aquele cagaço do desconhecido, medo das forças ocultas, medo do castigo divino, medo da minha alma não merecer aquele olhar espiritual...
Resumo da ópera: Fomos as últimas a ser atendidas.
Michele foi primeiro. O atendimento dela foi rapidinho - como assim? ela tá mais limpa que eu?
E lá fui eu. Quem me atendeu foi a moça das senhas, que incorporava o chefe dos caboclos daquele dia. Me falou algumas coisas meio óbvias - quem procura esses lugares sempre busca um conforto espiritual, uma frase amiga, um chocolate, enfim, qualquer coisa pra dar aquele ugrade no ânimo. Depois veio uma criança e depois um desses homens de povo de rua. Cara, minha cabeça embananou e não sei se era cansaço, não sei o que era, mas o cara lá me mandou fechar os olhos e começou a cantar uma música. Senti minhas mãos formigarem e um soninho esquisito veio vindo, me senti balançar e um zum-zum-zum na minha orelha... Bem, acabou, recebi um abraço afetuoso da entidade e tratei de sair dali o mais depressa possível.
Quando vi, Michele estava sentada no banco e ria.
Falou que meu santo quase tinha virado.
Eu nem sabia que tinha santo, ainda mais que ele virava alguma coisa.
Nunca mais voltei lá. E nem quero passar perto. Da experiência positiva, só mesmo o mico da noite. Não é a minha, definitivamente.
Fikadika: (como diz minha amiga Aninha) se algum dia for a algum desses lugares, pega sua senha e fica quietinho. Nada de querer fazer social e falar com o gerente. Quanto mais anômino melhor.
E se sua acompanhante tiver alguma noção daquilo que tá falando não tira onda: afinal, Caboclo nos olhos dos outros é refresco.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Prazo de validade




Momentinho auto-ajuda
De tempos em tempos me proponho a dar uma faxina geral nas minhas coisas. Tá certo, de um tempo pra cá tenho sentido uma necessidade maior de que estes eventos sejam mais constantes, apesar da falta de tempo.
Dou uma geral em tudo, desde roupas, papéis, até pequenos objetos. Coisas que costumam ocupar espaço e que já não me servem de nada... Tenho uma gaveta das camisetas-que-um-dia-vou-usar. Todo dia olho pra ela e digo: putz, não vou me desfazer pq um dia vou usar... e nunca uso, obviamente. Um dia coloco elas pra jogo, junto com os sapatos que saíram de moda, casacos do inverno retrasado... Tudo vai terminar um dia indo embora.
Assim como bens materiais, tenho me exercitado também a verificar o prazo de validade das minhas emoções. Não me apegar a coisas que não me engrandecem, a sentimentos que não merecem a minha atenção, é um exemplo disso. A indiferença - feliz ou infelizmente, não sei ainda - já caminha comigo desde sempre, e se manifesta algumas vezes quando me decepciono com alguém. Então daí, partir para que qualquer sentimento bom ou ruim, em relação ao autor daquela ação, vá aos poucos perdendo a sua validade, é um caminho natural.
A prática é difícil, eu sei. Mas é preciso jogar fora os remédios que venceram. Não adianta ficar os mantendo na farmácia, pois não farão mais efeito, ou pior, ainda corre o risco de nos envenenar....Assim como se desvencilhar de papéis, contas pagas, bilhetinhos antigos, fotos 3X4 de gente que vc nem sabe mais por onde anda, é preciso jogar fora ressentimentos, decepções, indiferenças, perseguições e manias...
Vamos lá, minha gente, já não temos mais idade pra achar que o mundo gira em torno do nosso próprio umbigo, que carregamos a culpa do mundo nas costas, e que se não ganhamos presente no Natal, é pq não fomos bons garotos...
Um dos exercícios que venho praticando durante alguns anos (e bota anos nisso) é aceitar e reconhecer meus erros. Num tem ninguém na vida que nunca errou - por egoísmo, por infantilidade, por displicência, por falta de amor ao outro.
Sou daquelas que assume mesmo: fiz merda. Ponto parágrafo. Pula pra outra linha.
Acho que aceitar o "mea culpa" já é um grande passo para se alcançar a maturidade emocional. Nada dessa estória de querer imputar no outro - no chefe, no namorado, no marido, na mãe, no filho, no amigo - a responsabilidade pelos nossos atos. Pra isso, temos o livre arbítrio e a inteligência (uns mais, outros menos) - para sermos donos absolutos das nossas atitudes.
Então, Alice (aquela mesma, a do País das Maravilhas), pára de show e desce do palco! Somos e sempre seremos hoje consequência das nossas escolhas...
E como na faxina da casa, que a gente joga fora tudo aquilo que já não nos serve, vai ficar aquela prateleira vaga, um espacinho na gaveta pra uma roupa nova, um sapato, novos livros, novas fotos, qualquer coisa que possa ocupar aquele espaço e aquela energia que se instalou ali durante tanto tempo... nunca vi ninguém olhar pra gaveta vazia e se lembrar da camisetinha de malha puída da Oktober de 95 - que era velhinha, mas eu gostava tanto... então vamos parar de chorar pelo amor que acabou, pelo amigo que se foi, pela promoção que não veio...
Como no texto da Martha Medeiros, que é preciso se completar o ciclo sem sair na metade - curtir o doce do início e o amargo do fim - para que novas coisas aconteçam, assim tb é como na nossa "faxina da alma". Tá na hora de mudar a faixa do LP em que a agulha fica pulando. Novas músicas, novas melodias. Novos ritmos. Permitir-se. Virar a página. Sair à francesa. A gente pode achar que não é fácil. Mas ficar se fazendo de vítima, se achando o injustiçado do mundo, não ajuda em nada...
Eu mesma tenho feito minha faxina. Joguei fora rancores, perdoei atitudes, ME perdoei, pq reconheci os meus deslizes... Me permiti ouvir o outro... escutei, absorvi, entendi, raciocinei... concordei ou não, mas reconheci que cada um sempre terá suas razões. Joguei fora aquele remedinho escondido lá no fundo da prateleira que só me fazia ver somente sob a minha ótica - ele já tava pra lá de vencido...
Durante esta semana várias palavras passearam pela minha cabeça.
Comportamento, maturidade emocional, escolhas... Estórias ouvidas, situações vivenciadas, textos lidos...
E num insight veio esse lance de que tudo nada vida tem seu prazo de validade. Uns mais outros menos.
Claro que tem coisas que nunca perdem esse prazo e outras que deveriam ter seus prazos extendidos... depilação e unha da mão por exemplo? Depilação poderia durar uns 6 meses, unha deveria durar pelo menos 1 mês.
Quer saber o que tem prazo ilimitado? Boas sensações. A lembrança de um toque, cheiros. Risadas. Primeiro beijo. Se foi bom, bom MESMO - daqueles de surpresa no ponto do ônibus - nunca vai perder a validade... cheiro de bolo quente no forno... abraço de mãe... carinho de filho...
Então, galera, vambora faxinar a nossa alma... vamos jogar fora aquilo que não vale à pena... vamos perceber que a vida é uma só e ela passa muito rápido... vamos deixar de ser meros coadjuvantes... vamos fazer alguma coisa pelo nosso interior.

Taí o saco de lixo, a flanela e o Veja.
O resto é com vocês.

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Amélia´s running


Domingo de sol, acordo atrasada (novidade) vou de moto e consigo chegar a tempo da largada na Delfim Moreira. Ligo pra Vivi que já me espera desde às 7h45min no pórtico, toda equipada e já aquecida pros 6km Leblon-Copa. Estou finalmente de volta, depois de quase 6 meses longe da deliciosa experiência e da energia das corridas de rua.
Ah, vai, tá bom... tô sem treinar... abandonei a academia e o tênis, desde o episódio com a minha lombar... mas o fato de estar ali naquele ambiente me deu algum tipo de incentivo, algum estímulo, pra voltar a fazer qualquer tipo de atividade física novamente.
Correr que é bom, só os primeiros 100m. Minha mais nova companheira de pistas também não se importou em desacelerar e partir pra caminhada. À nossa direita aquele marzão lindo do Leblon, aquele cheiro de maresia, aquele solzinho de 8 horas da manhã maravilhoso. Muito bom partilhar passadas e risadas com gente que consegue acompanhar nosso ritmo e nossas piadas. Em pouco tempo já estávamos as duas em sintonia: a troca de experiências sobre a educação e peripécias dos filhos, sobre a vida atribulada de super-mães, sobre a convivência pacífica, necessária e edificante com nossos ex-maridos e a constante preocupação com o fortalecimento do link entre eles e nossos filhotes...
Mas como tudo o que é muito sério fica muito chato, lá estávamos nós rindo do nosso próprio desafio. Toda vez que a gente passava por um sinal fechado dava vontade de parar e esperar abrir. Avisei a Vivi pra desacelerar nos pardais, vai que a gente leva uma multa por excesso de velocidade? De repente, eis que avisto uma placa indicando “Pão de açúcar”. Ufa, estamos no caminho certo... Teve também aquela corridinha de auto-ajuda descendo a Francisco Otaviano, pois como disse a Vivi “Aqui não tem mar pra incentivar a gente e o Arpoador ainda é a metade da prova”. Antes, pit stop para fotografar com o Lindberg ou com o Rodrigo Bethlem. Opa, brincadeirinha, era com o cartaz dos 3 km...
Vencendo mais esta barreira, descortina-se Copacabana.
Aí ferrou.
Não sabíamos se a corrida já tinha acabado, ou se havíamos nos perdido. O calçadão já tava cheio de velho, cachorro, gringo, ambulante. Só faltou mulata estilo plataforma sambando no meio da rua, acompanhada de alguma bateria de escola de samba. Quase perdidas, continuamos nossa caminhada, pensando o quanto poderíamos cortar de caminho se fôssemos nadando.
Ainda faltava um quilômetro quando avistamos uma pessoa correndo de volta. Como assim? A mulher já estava voltando? De toalhinha lilásinha, medalhinha, bananinha? No sentido contrário? Vambora, Vivi, se não a gente chega na hora da desmontagem do pórtico...
Enfim chegamos, exaustas, felizes, sedentas.
Final de prova com água de côco no quiosque do Índio, visita ao banheiro subterrâneo da orla, sanduba light e pagodinho no ouvido – que ficou na nossa cabeça pelo resto do dia -  “Amélia não tinha a menor vaidade, Amélia é que era mulher de verdade”.
Será que essa tal de Amélia encarava 6km?
Duvido muito.


sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Sobre internet e coisa e tal...


Dia desses recebi um daqueles infindáveis e-mails de atualização de redes sociais, que me chamou atenção. Era um e-mail de atualização do Facebook que relatava um comentário de uma amiga, sobre o status da outra. Era uma reclamação, quase uma bronca. A questão era sobre um torpedo enviado e não recebido, quando uma ligação seria mais eficiente. Bem, era uma troca de farpas em família, mas serviu para um pequeno momento de reflexão, no meio dos processos e papéis azuis existentes na minha mesa.
Me peguei pensando sobre os avanços da tecnologia e como ela pode unir e afastar pessoas. A internet tem o poder de nos colocar lado a lado de alguém do outro lado do mundo – falo religiosamente todos os dias com minha amiga Michele que está nos EUA - e também é capaz de construir uma muralha entre nossos amigos mais próximos – as vezes convido o Beto pra um café, pelo MSN. Estamos tão escravos dos torpedos, dos pop-ups, e-mails, chats, que esquecemos quanto é bom sentir o calor da voz humana.
Quando reencontrei o Vito, numa tarde dessas tediosas da vida – estávamos no MSN e ficamos pelos menos umas duas horas de bate-papo, até cair a ficha de que poderíamos nos falar pelo telefone, como antigamente. Bem, foram mais outras duas horas de papo, bem mais interessantes, sem nenhum hauhauhau, : ), rsrsrs, naum, entaum, rsrsrs.
Estávamos ontem num restaurante, aquela algazarra de copos e talheres, enquanto a filha adolescente de uma amiga, no meio de uma mesa repleta de crianças e pizzas, se encontrava “autistando” no celular. Pois é, no início não entendi a expressão – será que eu não tava antenada com os "novos" neologismos - mas a minha outra amiga, também mãe de uma pré-adolescente, me explicou: adotar uma postura meio autista, absorta, introspectiva. Ela conseguia, através da internet e pelo celular, estar completamente alheia ao pandemônio que se instaurava ao seu redor. Coisa de doido.
E os sites de relacionamentos e redes sociais? Hoje em dia são tantos que me perco no meio de todos eles: Orkut, facebook, sonico, badoo, twitter... Eles me fizeram reencontrar amigos de infância, me fizeram conhecer “ao vivo” pessoas incríveis – como as meninas do mosaico e do scrap – a aderir comunidades engraçadas, me fizeram estreitar amizades com colegas de trabalho por achar interesses em comum, descobri que tenho amigos que são amigos de outros amigos... me estimularam inclusive a deixar minha veia criativa falar mais alto e criar meu blog... Ah, não posso me esquecer que a internet, através dos grupos de e-mails, está me fazendo vivenciar uma deliciosa experiência com as mães dos amiguinhos do Frederico na creche.
Mas estes mesmos sites mágicos também já me deram - como pra qualquer um de nós, acredito - muita dor de cabeça. Vai ter gente fofoqueira assim lá na web. Me lembro que uma vez, recém- separada, escrevi alguma coisa do tipo “chutei o balde” – referindo-me ao "porre-homérico-de-dor-de-corno" do final de semana. O que teve de especulação em cima dessa frase, vocês não vão acreditar! Queriam saber o que havia dentro do balde, de que cor era o balde, a quantos metros ele havia sido chutado, a que velocidade ele foi arremessado, até se o balde era de plástico... Olha só, como as coisas estão... não se pode nem compartilhar uma derrota – neste caso, meu porre - sem que isso seja motivo da especulação alheia... É engraçado, as pessoas acreditam que fazendo parte daquele seu círculo virtual de amigos, tem o direito de invadir a nossa privacidade e interpretar o que se escreve e o que se vê da maneira que se bem entende...
Tive um ex-namorado que acessou, clandestinamente, é óbvio, minha caixa de e-mails. Não faço a mínima idéia do porquê da investida, com qual propósito, pra me vigiar, me controlar, sei lá. Deve ter tido acesso a minha conta corrente também. Acredito, verdadeiramente, que ele se arrependeu. Após ver meu saldo, é claro.
Depois disso, ele virou ex. É a tecnologia a favor da humanidade.

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Eu e o tubo


Primeiramente, gostaria de lembrá-los que não sou surfista. Nem passei a andar com meninos que vestem bermudões abaixo da cintura expondo com orgulho suas cuecas e cofres, enquanto deslizam sobre seus skates em half-pipes, fazendo manobras de nomes esquisistos tipo drops e flicks-flacks que desafiam as leis da gravidade. Apesar de com orgulho exibir meu atestado de “ninja girl” – afinal, pra mim nada é impossível - a aventura que vos relato é tão radical quanto, quiçá a mais radical de minha inteira vida.
O tubo a que me refiro é o equipamento necessário para a realização daquele tal de exame de ressonância magnética, que minha lombar em início de deterioração, após constantes reclamações, passou a me exigir. Aconteceu ontem à tarde, depois de um dia absolutamente atípico: uma manhã atribulada após uma noite mal dormida, combinada com comprimidos de relaxamento muscular.
Após uma breve estada em uma salinha minúscula chamada vestiário, onde tive que colocar um avental ridículo, com sapatilhas ridículas – um modelito apropriado pra um fim de semana em uma clínica geriátrica – e uma espera aproximada de uns 30 minutos, lá fui eu, acompanhada do médico gordinho chamado João, praquela sala que mais parecia a antecâmara da Enterprise. Após as perguntas usuais se eu tinha algum metal no corpo, algum tipo de fobia, falta de ar, essas coisas todas (até então desconhecidas para mim), fui orientada a deitar naquela bandeja em forma de cama (minha primeira ilusão) rumo a minha mais recente derrota. Até então eu estava achando tudo normal. João me colocou um travesseirinho fofo, me orientou com a questão do botãozinho vermelho pra qualquer emergência, me colocou um edredonzinho lindo, e eu fui me sentindo tão feliz, tão fofinha, tão quentinha, tão querida, já pensando que seria tranqüilo aquele exame, rapidinho estaria longe dali. Primeiro grande erro: caí na besteira de perguntar ao João quanto tempo demoraria e ele me respondeu em torno de 25 minutos, SE eu não me mexesse.
Pois, a caminha começou a entrar no tubo, o travesseiro já começou a apertar a minha cabeça. Fechei os olhos. Foram os 30 segundos mais longos e horripilantes da minha existência. Abri os olhos e eu continuava entrando no tubo, fechei de novo.
O cara que inventou esse tipo de exame devia ser, além de gênio, um sádico, pois é praticamente impossível não sentir pânico dentro do tubo. Xinguei mentalmente a mãe dele. Abri novamente os olhos e a única coisa que veio a minha cabeça era que eu não conseguir ficar 25 minutos dentro daquela coisa. Começou a me dar taquicardia, falta de ar, pedi perdão pelos meus pecados, descobri a claustrofobia, senti saudades do meu filho, queria a minha mãe, tudo ao mesmo tempo.
Pois é, amigos, amarelei.
Pedi penico.
Fugi da raia.
Perdi, meu irmão.
E confesso que antes de me lembrar da porra do botão vermelho na minha mão, chamei pelo João lá de dentro da máquina. Maior mico.
João me tirou de lá pálida, sem nenhuma gota de sangue. Coitado, ele já devia estar acostumado a ver cenas como aquela. Nem questionou a possibilidade de me recompor e tentar mais uma vez – o que, obviamente, mesmo se isso fosse cogitado, estaria fora de questão. Me falou do tal exame com a máquina aberta – ta de sacanagem? Ninguém avisa ANTES que existe uma máquina aberta? – mas que não havia vaga para aquele dia.
Saldo da tarde: além da derrota, que foi seguida por alguns minutos de vergonha, lágrimas contidas e posteriormente gargalhadas (por parte dos amigos, é claro), me senti um pouco melhor ao conhecer na recepção da clínica (enquanto eu tentava cancelar o exame) um cara forte, de quase 2 metros de altura batendo o pé com a esposa, dizendo que não entrava no tubo de jeito nenhum. Um sorrisinho contido me veio aos lábios. Ainda continuava ninja, afinal.
Bem, como disse Silvana, após essa experiência, sou uma mulher que nunca entrarei pelo cano.
Tubo agora, só no surf. E olhe lá.

sábado, 28 de agosto de 2010

Mundo cão



Lá em casa, além dos canários do meu pai e dos peixes japoneses, o que tive mais próximo de um pet foi uma coelha. O nome dela era Gorby. Roeu todas as portas e fios da casa, mas o que incomodava mesmo era o xixi no sofá. Porque cocô de coelho é fácil de limpar, né? Vem sempre em bolinhas. Minha irmã bem que tentou uma vez adotar um gato pra família, mas meu pai nunca foi muito fã desta conjugação bicho-apartamento.
E quando não se tem mesmo muito contato, não se entende muito bem essa ligação estranha entre o homem e o animal.
Depois, minha proximidade com o mundo canino, foi com a família do Gustavo, que tinha o Luke. Ele era mistura de Yorshire e Poodle, depois de uma descarga elétrica, com os pêlos pra cima. Luke era um amorzinho, morria de medo de fogos de artifício e colecionou zilhões de estórias engraçadas, como o pavor que tinha de carros, ou o dia em que ele fugiu pro apartamento em obras do vizinho e, os pintores, sem notá-lo, o tracaram lá dentro... Lukinho viveu bastante tempo, Frederico ainda brincou com ele. Morreu bem velhinho, quando já não interagia mais com ninguém.
Meses atrás, conheci o Bob e o Bambam, os beagles do Vito. Bambam, o filho e líder, não é muito de dar confiança pra ninguém. Pose austera, porte firme. Olhos amendoados, pelagem castanha. Nervosinho e briguento, meio provando o que as pessoas dizem que o cachorro reflete um pouco a personalidade do seu dono.
Bobinho, como era carinhosamente chamado, o pai, era mais dócil. Saía latindo e abanando o rabinho, naquela atitude de quem não quer briga, só farra. Carente, grudento, manhoso, companheiro. Me lembro quando Vito me contou sobre a primeira vez em que o viu: foi como daquelas coisas de cinema, tipo amor à primeira vista. “Esse cachorro é meu”, tinha dito para si mesmo. E foi.
Frederico fazia o que queria dele. O fazia de cavalinho e levantava suas orelhas como as de um coelhinho. Gargalhava, numa mistura de nervosismo e nojo, com as lambidas dos cachorros no seu rosto. Quando saíamos pra passear, Frederico se sentia orgulhoso, me ajudando a segurar a coleira do Bob.
Quase ao mesmo tempo, conhecendo um pouco mais da Bella, minha estagiária, ela me fez tentar entender, com sua doação e solidariedade aos animais, o que faz alguém recolher cachorros na rua e sair em busca de um novo lar pra eles. Percebi que esta ligação, invisível aos olhos de quem nunca conviveu com os animais, é tão forte quanto vínculos de sangue, vínculos de convivência, de família. O animal se torna sua parte, seu companheiro, sua metade. Ele depende de você pra se alimentar, pra ser cuidado. E você passa a depender daquele amor gratuito e incondicional que ele te devota, ainda que expressados em forma de festa, lambidas e latidos.
Mas, o ciclo de vida dos bichos é diferente. Curiosamente, a missão que eles cumprem em nossas vidas tem prazo de validade determinado. Foram poucos os meses de convívio, mas cheios de ensinamentos. Pude aprender sobre amizade, devoção e dependência. Aprendi um pouco sobre o comportamento do animal, aprendi um pouco sobre sua rotina diária, mas o que aprendi, realmente, foi sobre o verdadeiro e incontestável amor que existe entre o cão e seu dono.
O céu dos cachorros agora deve estar em festa. Tenho certeza, que se este lugar existe mesmo, é um lugar muito legal, cheio de bolas, biscrocks, ração e postes - e nada de pulgas. Deve ser um descampado lindo, cor de rosa, cheio de flores, com sabor de algodão doce, cheio de paz pra acolher estes nossos amigos que nos ensinam tanto todos os dias.
Certamente é um lugar muito, mas muito melhor, que este nosso mundo cão.

Para Bobinho.

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Hora do banho


Quando Frederico era menorzinho (agora ele já ostenta orgulhosamente seu status de um rapaz de 4 anos) a rotineira tarefa daquela higiene pessoal chamada banho ainda não era uma tarefa tão árdua. Não era necessário ainda todo jogo de diplomacia e estratégia que hoje sou obrigada a utilizar, toda vez que a palavra banho é pronunciada.
Numa dessas aventuras deste período longínquo, dentro de um “box blindex classic” embaçado pelo vapor da água quente, tive uma das maiores e mais hilárias derrotas de toda a minha carreira materna.
Estávamos nós, enquanto ainda nos divertíamos com espumas e shampoos, quando ele me pediu para que desenhasse um coração no box embaçado. Como toda mãe melosa e artista, desenhei um coração robusto e escrevi com letras garrafais a palavra FRED dentro dele.  Perguntei, na esperança que ele pudesse identificar as letras e saber que ele preenchia todo aquele espaço - até mesmo dentro daquele coração embaçado da porta do blindex - o que estava escrito e ele me respondeu, de pronto: Frederico. 
“Agora eu, mamãe, agora eu!”, me pediu ansioso para desenhar na mesma hora outro coração embaçado, enquanto ele, com o dedo indicador, rabiscava algumas coisas dentro dele. “Olha o meu, mamãe” exibia ,  orgulhoso, sua mais nova obra de arte.
Com um sorriso nos lábios tolos de mãe, na esperança de estar também contida em todo aquele espaço, ainda que naquele coração embaçado do blindex, exclamei: “Nossa, que lindo, filho! E o que está escrito?”
E ele, sem pestenejar, me respondeu, com toda a certeza do universo:
“Peter Parker!”

sábado, 21 de agosto de 2010

Minha Imperatriz


Num período de questionamentos da minha vida, especificamente no início de 2009, recorri ao Tarô como forma de autoconhecimento. Não sou intuitiva, nem tampouco estudiosa, não fiquei aberta aos insights, nem passei a dar consultas (rs). Mas foi um período muito legal de estudo, sobre os Arcanos Maiores e suas inclinações, assim como a iconografia das cartas...E durante todo curso, curiosamente, a carta da Imperatriz aparecia nos meus jogos, como que um alento, como um aviso para que eu tivesse calma, pois o fruto do meu trabalho e esforço um dia seria recompensado...


A primeira vez que vi a cara da Imperatriz – e era a mesma do tarô mitológico – foi um mês antes de descobrir que estava grávida, em uma consulta com uma grande numeróloga, lá em Niterói. Nesse momento, a Imperatriz me mostrava que Frederico já estava pronto para me presentear a incrível descoberta da Maternidade – um bebê enorme, um menino, Clarisse me dizia. Não deu outra. Meu filho já me rondava naquela época, somente aguardando o momento de encarnar.
Se fizer uma reflexão um pouco mais profunda, acho que durante toda a minha vida, vivi a Imperatriz. Nasci numa família de mulheres, com um único homem no comando. Família tradicional, de subúrbio, com educação e padrões morais rígidos. Sempre estive meio fora daquele contexto, meio fugindo as regras. Trabalhei muito cedo, segui minhas vocações. Busquei minha independência. Fui morar sozinha. Me casei, por amor e por vontade, mas aquela cerimônia religiosa era muito mais para dar satisfação à família do que por vontade própria. E mesmo dentro deste casamento, que aos poucos foi transformando a minha própria essência, eu era aquela que fazia, a que efetivamente realizava, a que tinha as responsabilidades com a casa, com o filho, com o outro. Imperando.
Sou geminiana. Não entendo muito dos signos, nem de astrologia, mas posso perceber características geminianas em muitos dos meus defeitos e das minhas virtudes. Uma dessas vertentes é a criatividade e meus vários talentos (olha a Imperatriz aí de novo) – gosto de escrever, sou artesã, estou sempre buscando aprender e fazer coisas novas. Minhas mais recentes aventuras são o tênis – que um dia ainda aprendo, tenho fé – e as corridas de rua. A última empreitada me rendeu 10km no aterro. Movimentação constante, afinal, sou signo de ar.
Quanto à feminilidade, concordo que tenha estado meio adormecida, após esse período meio dormente por conta da separação. Ressurgiu, ainda em ebulição, o que havia sido esquecido – não de fato eliminado, pois mesmo tendo sido uma criança meio nerd, de óculos e maria-chiquinhas, sempre me considerei uma “espécie feminina” interessante. Talvez a Imperatriz esteja querendo me mostrar que de fato, esta “Sandra” deve mesmo despertar, deve voltar à cena.
Quando soube que a Imperatriz queria me falar sobre realização, sair do teórico e ir para prática, me lembrei de uma frasezinha típica, que sempre escuto toda vez que me consulto com alguém: “Você tem mãos de cura”.  Mas o que poderia fazer para efetivamente para, que nesta busca do meu autoconhecimento, eu pudesse efetivamente fazer as coisas acontecerem? Como eu poderia usar meus dons e talentos para o bem, para o bem-estar do outro, para ajuda do outro, para a caridade? Como posso transformar essa necessidade em uma experiência que me leve em direção ao meu autoconhecimento? Bem, sempre me questionei muito sobre o que realmente estou fazendo neste planeta. Qual a minha missão? O que esperam de mim? Não é possível que a minha passagem por aqui seja meramente a passeio, como dizem, existe algo maior na minha essência, que urge, que precisa, que sabe que existe algo maior a ser feito. Essa busca incessante ora está adormecida, ora está efervescendo como agora - e confesso que ainda meio trôpega, ainda se acostumando com as bússolas e mapas disponíveis. O autoconhecimento não é um destino - Marcelo, meu mestre do Tarô, havia me dito. È um caminho construído, edificado dia-a-dia. E eu não consigo desvencilhar a imagem do autoconhecimento ao do desenvolvimento da minha espiritualidade. Ainda não sei se isso tem haver com religião. De tudo o que conheço não encontrei nada ainda a seguir. Acho que não sou daquele tipo que aprecia a “sopa de letrinhas”, mas talvez meu consciente bloqueie aquilo que não consigo entender. Tá na hora de me abrir aos insights. Ta na hora de confiar no Papa, para que ele se torne um Eremita.
Esta noite eu dormi profundamente. Dormi com a carta da Imperatriz. Não sonhei com nada específico. Ainda me sinto muito crua e aprendiz, muito novata. Sei que preciso espiritualizar-me mais – talvez por isso a aparição do Papa nos meus últimos jogos.
O que preciso? Deixar-me conhecer. Compartilhar experiências. É isso que levamos dessa vida. Um pouco de todo mundo que conhecemos.
Tenho certeza que o Tarô irá me ajudar – e muito – a me redescobrir.
A descobrir minha Imperatriz. Diariamente.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Sai Zeitona, entra Malagueta

Pra início de conversa, nunca gostei muito de dirigir. Tenho carteira desde os 19, mas como sempre tive alguém pra fazer as vezes de motorista, nunca precisei me aventurar ao volante. Minha irmã sempre dirigiu o carro do meu pai e nas suas andanças, sempre retornava, aliado aos amassados da lataria, com algum prejuízo ao bolso paterno. Diante deste fato, como toda boa filha e samaritana, prometi a mim mesma que só dirigiria o meu próprio carro (silêncio). Vivi tantos anos na dependência dos outros que hoje não acredito como pude andar tanto tempo à pé.
Meu primeiro carro (apesar da minha contribuição neste caso ter sido restrita ao financeiro) se chamava Alfredinho. Tive outros e muitos outros, alguns nunca dirigi, outros viraram parte do meu apartamento - mas o carro que foi MEU mesmo, filho de pai e mãe, com o mesmo sobrenome, foi o Zeitona.
Esse pequeno guerreiro verde de quatro rodas foi um dos grandes pilares para a definitiva conquista da minha independência. Zeitona me fez entender que eu era capaz de domar a máquina, que eu podia sim, acelerar, debrear, frear, passar a marcha, olhar nos 3 retrovisores, ligar as setas e ainda verificar se o rímel não havia borrado, no “ quick make up ” durante o sinal fechado.
Zeitona me carregou pro mundo. Me levou pra Lapa nas noites de sexta, me levou ao shopping e ao cinema, e à árdua tarefa mensal de ir ao supermercado. Já saiu abarrotado de doações pros desabrigados das enchentes e foi o primeiro a me fazer pegar a estrada, durante o carnaval de 2009. Zeitona me levou, nas madrugadas da vida, atrás das emergências pediátricas do Rio, e me fez até reaprender matemática, na ânsia pelo entendimento do estranho cálculo da porcentagem limite do excesso de velocidade, e a soma dos pontos que a gente perde na carteira por esses mesmos excessos.
Se Zeitona tivesse piloto automático ele subiria a Grajaú-Jacarepaguá de ré. Ele conhece cada curva, cada buraco, já desvia automaticamente dos cachorros que insistem em brincar no meio da pista. Zeitona já passou vários sufocos na Grajaú - pneus furados e enchentes - e esteve sempre lá, firme e forte, quase um gladiador. Ele foi o meu mais fiel companheiro nesses quase dois anos de convivência.
Agora, Zeitona pertence a outra família. Ainda bem que é uma família do bem, com princípios, que vai tratá-lo com o carinho que merece, que já o adotaram como filho. Zeitona fará meus amigos felizes, tenho certeza, e os levará a vivenciar novas e incríveis aventuras pelas estradas da vida.
Dizem que carro bom é aquele que nos leva pra onde quisermos.
Zeitona não era bom, Zeitona era ótimo.
Zeitona só não me levou pra Lua.

Pros que, assim como eu, sentirão saudades: Michele, Cleide, Sil, Pedro, Paula (com e sem Miguel), Ana Cristina e Marcão – Malagueta ta na área.
E como diz o Beto: o meu fraco é um horti-frutti.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Porque eu amo massagem nos pés

Frederico pegou, junto aos meus perfumes, um vidro de óleo seve. Me perguntou, com sua vozinha de anjo: “É do papai?” E eu respondi: “Não, é da mamãe. Deixe isso aí e vamos dormir.” Não satisfeito com a minha negativa, agarrou o vidro e levou pra cama. Mais uma vez me indagou: “Que isso, mamãe?” E eu respondi, não querendo me alongar: “È de fazer massagem nos pés.” Ele me olhou com seus olhinhos de estrela, ainda esperando entender pra que servia aquilo. “Quer que a mamãe faça em você?”, perguntei, sabendo que minhas explicações ainda não haviam sido convincentes. Ele balançou a cabeça, fazendo que sim. Coloquei óleo nas mãos, esfregando-as uma na outra e comecei a massagear seus pezinhos: os dedinhos pequenos escorregando pelos dedos, o calcanhar que cabia certinho na palma da minha mão, arrancando gargalhadas sonoras, sorrisos e risadas que soaram como música aos meus ouvidos de mãe. “Eu, eu, mamãe!” Ele disse espalmando as mãozinhas pra que eu colocasse óleo nelas, da mesma forma que eu havia feito. “Muito!!!” Reclamou ele prontamente da pequena quantidade oferecida. E com seus dedinhos gordinhos, suas mãozinhas de veludo, com sorriso de algodão doce nos lábios, foi acariciando meus pés, descoordenadamente, satisfeito por estar sendo confiado a uma tarefa tão importante.
Maior do que a gostosa e surpreendente certeza de que meu filho repetia, como um carbono, aquilo que eu - seu exemplo – fazia, ainda que dentro dos seus limites de bebê, foi a deliciosa sensação daquela carícia, que ainda ficou nos meus pés – e no meu sorriso orgulhoso de mãe - pelo resto da noite.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Adeus, 2008!

Como todo texto de ano novo, são muitas as promessas... e no final de 2009, talvez somente algumas realizações... rsrsrs

Adeus, 2008.
Não, não foi de todo ruim. Tenho implicância com os anos pares, confesso. Criei uma certa resistência. Sempre acho que no ano impar as coisas funcionam de forma diferente. É que 2008 foi um ano de atribulações. Ano de reflexões e de mudanças. Pude experimentar diversos sentimentos neste ano. Alguns tão bons e tão intensos, outros tão incrivelmente dolorosos.
Não, não é culpa do ano, definitivamente.
Talvez o que me faça querer hibernar até a chegada de 2009 é a esperança. Esperança de que tudo dará certo (mesmo com problemas antigos), esperança de novos sentimentos, novas aventuras, novas descobertas, novos amigos, novas paixões. Esperança de que todo o sofrimento será recompensado, de que existe SIM uma coisa boa que espera a cada um de nós, do outro lado do arco-íris. Esperança de que serei uma pessoa melhor, mais humana, menos falha, mais amiga, mais feliz. Seria bom se eu pudesse hibernar até lá.
Como todo fim de ano já me propus novas metas: cuidar do meu corpo e do meu espírito, ouvir mais, calar mais, viver cada vez mais e mais intensamente, valorizar aquilo que merece meu valor, evoluir.
Evolução. Evolução é a palavra chave do meu 2009.
Em 2009 eu vou mudar de camiseta. Vou arrumar meu coração e minha casa. Vou deixar as mágoas e angústias em 2008. Vou chorar menos. Vou sorrir mais. Vou simplesmente flutuar, me deixar levar pelo inesperado. Não vou me preocupar com o depois, com o correto, com as imagens, com bobagens. Vou fazer aquilo que tenho vontade, vou errar, vou acertar, mas, sobretudo vou continuar tentando... e muito...
Porque tolice é deixar a vida passar em calmaria, quando temos o leme de nosso destino bem nas nossas mãos.
Que venha 2009!
Estou pronta agora.

domingo, 15 de agosto de 2010

The beginning

Desde nova me atrevo a escrever. Algumas coisas bem legais, outras horrendas – como se fizessem parte de algum caderno de redação do primário... Poucos foram aqueles que tiveram acesso aos meus textos – mas entendam, isso nada tem haver com privilégio: a não divulgação desta minha faceta se deu por pura falta de comprometimento à minha criatividade - que a minha alma geminiana insiste em fazer emergir aos milhões com o passar dos segundos...
Então, decidi que já era tempo de compartilhar algumas coisas... Já que já não sou mais novinha há bastante tempo e minhas experiências já não fazem mais parte daquele caderno – vamos tomar como aliado o avanço da tecnologia para colocar alguma coisa no papel, quer dizer, na tela...
Alguns textos são antigos, outros mais recentes. São retratos de diversos momentos: surtos felizes, crises existenciais e, é claro, as infindáveis e divertidas derrotas... como um raio-X daquele exato instante, eu tento, em palavras, contar um pouco daquilo que está bem aqui dentro da minha cabeça...
Espero que gostem das minhas sandrices...