segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Eu e o tubo


Primeiramente, gostaria de lembrá-los que não sou surfista. Nem passei a andar com meninos que vestem bermudões abaixo da cintura expondo com orgulho suas cuecas e cofres, enquanto deslizam sobre seus skates em half-pipes, fazendo manobras de nomes esquisistos tipo drops e flicks-flacks que desafiam as leis da gravidade. Apesar de com orgulho exibir meu atestado de “ninja girl” – afinal, pra mim nada é impossível - a aventura que vos relato é tão radical quanto, quiçá a mais radical de minha inteira vida.
O tubo a que me refiro é o equipamento necessário para a realização daquele tal de exame de ressonância magnética, que minha lombar em início de deterioração, após constantes reclamações, passou a me exigir. Aconteceu ontem à tarde, depois de um dia absolutamente atípico: uma manhã atribulada após uma noite mal dormida, combinada com comprimidos de relaxamento muscular.
Após uma breve estada em uma salinha minúscula chamada vestiário, onde tive que colocar um avental ridículo, com sapatilhas ridículas – um modelito apropriado pra um fim de semana em uma clínica geriátrica – e uma espera aproximada de uns 30 minutos, lá fui eu, acompanhada do médico gordinho chamado João, praquela sala que mais parecia a antecâmara da Enterprise. Após as perguntas usuais se eu tinha algum metal no corpo, algum tipo de fobia, falta de ar, essas coisas todas (até então desconhecidas para mim), fui orientada a deitar naquela bandeja em forma de cama (minha primeira ilusão) rumo a minha mais recente derrota. Até então eu estava achando tudo normal. João me colocou um travesseirinho fofo, me orientou com a questão do botãozinho vermelho pra qualquer emergência, me colocou um edredonzinho lindo, e eu fui me sentindo tão feliz, tão fofinha, tão quentinha, tão querida, já pensando que seria tranqüilo aquele exame, rapidinho estaria longe dali. Primeiro grande erro: caí na besteira de perguntar ao João quanto tempo demoraria e ele me respondeu em torno de 25 minutos, SE eu não me mexesse.
Pois, a caminha começou a entrar no tubo, o travesseiro já começou a apertar a minha cabeça. Fechei os olhos. Foram os 30 segundos mais longos e horripilantes da minha existência. Abri os olhos e eu continuava entrando no tubo, fechei de novo.
O cara que inventou esse tipo de exame devia ser, além de gênio, um sádico, pois é praticamente impossível não sentir pânico dentro do tubo. Xinguei mentalmente a mãe dele. Abri novamente os olhos e a única coisa que veio a minha cabeça era que eu não conseguir ficar 25 minutos dentro daquela coisa. Começou a me dar taquicardia, falta de ar, pedi perdão pelos meus pecados, descobri a claustrofobia, senti saudades do meu filho, queria a minha mãe, tudo ao mesmo tempo.
Pois é, amigos, amarelei.
Pedi penico.
Fugi da raia.
Perdi, meu irmão.
E confesso que antes de me lembrar da porra do botão vermelho na minha mão, chamei pelo João lá de dentro da máquina. Maior mico.
João me tirou de lá pálida, sem nenhuma gota de sangue. Coitado, ele já devia estar acostumado a ver cenas como aquela. Nem questionou a possibilidade de me recompor e tentar mais uma vez – o que, obviamente, mesmo se isso fosse cogitado, estaria fora de questão. Me falou do tal exame com a máquina aberta – ta de sacanagem? Ninguém avisa ANTES que existe uma máquina aberta? – mas que não havia vaga para aquele dia.
Saldo da tarde: além da derrota, que foi seguida por alguns minutos de vergonha, lágrimas contidas e posteriormente gargalhadas (por parte dos amigos, é claro), me senti um pouco melhor ao conhecer na recepção da clínica (enquanto eu tentava cancelar o exame) um cara forte, de quase 2 metros de altura batendo o pé com a esposa, dizendo que não entrava no tubo de jeito nenhum. Um sorrisinho contido me veio aos lábios. Ainda continuava ninja, afinal.
Bem, como disse Silvana, após essa experiência, sou uma mulher que nunca entrarei pelo cano.
Tubo agora, só no surf. E olhe lá.

sábado, 28 de agosto de 2010

Mundo cão



Lá em casa, além dos canários do meu pai e dos peixes japoneses, o que tive mais próximo de um pet foi uma coelha. O nome dela era Gorby. Roeu todas as portas e fios da casa, mas o que incomodava mesmo era o xixi no sofá. Porque cocô de coelho é fácil de limpar, né? Vem sempre em bolinhas. Minha irmã bem que tentou uma vez adotar um gato pra família, mas meu pai nunca foi muito fã desta conjugação bicho-apartamento.
E quando não se tem mesmo muito contato, não se entende muito bem essa ligação estranha entre o homem e o animal.
Depois, minha proximidade com o mundo canino, foi com a família do Gustavo, que tinha o Luke. Ele era mistura de Yorshire e Poodle, depois de uma descarga elétrica, com os pêlos pra cima. Luke era um amorzinho, morria de medo de fogos de artifício e colecionou zilhões de estórias engraçadas, como o pavor que tinha de carros, ou o dia em que ele fugiu pro apartamento em obras do vizinho e, os pintores, sem notá-lo, o tracaram lá dentro... Lukinho viveu bastante tempo, Frederico ainda brincou com ele. Morreu bem velhinho, quando já não interagia mais com ninguém.
Meses atrás, conheci o Bob e o Bambam, os beagles do Vito. Bambam, o filho e líder, não é muito de dar confiança pra ninguém. Pose austera, porte firme. Olhos amendoados, pelagem castanha. Nervosinho e briguento, meio provando o que as pessoas dizem que o cachorro reflete um pouco a personalidade do seu dono.
Bobinho, como era carinhosamente chamado, o pai, era mais dócil. Saía latindo e abanando o rabinho, naquela atitude de quem não quer briga, só farra. Carente, grudento, manhoso, companheiro. Me lembro quando Vito me contou sobre a primeira vez em que o viu: foi como daquelas coisas de cinema, tipo amor à primeira vista. “Esse cachorro é meu”, tinha dito para si mesmo. E foi.
Frederico fazia o que queria dele. O fazia de cavalinho e levantava suas orelhas como as de um coelhinho. Gargalhava, numa mistura de nervosismo e nojo, com as lambidas dos cachorros no seu rosto. Quando saíamos pra passear, Frederico se sentia orgulhoso, me ajudando a segurar a coleira do Bob.
Quase ao mesmo tempo, conhecendo um pouco mais da Bella, minha estagiária, ela me fez tentar entender, com sua doação e solidariedade aos animais, o que faz alguém recolher cachorros na rua e sair em busca de um novo lar pra eles. Percebi que esta ligação, invisível aos olhos de quem nunca conviveu com os animais, é tão forte quanto vínculos de sangue, vínculos de convivência, de família. O animal se torna sua parte, seu companheiro, sua metade. Ele depende de você pra se alimentar, pra ser cuidado. E você passa a depender daquele amor gratuito e incondicional que ele te devota, ainda que expressados em forma de festa, lambidas e latidos.
Mas, o ciclo de vida dos bichos é diferente. Curiosamente, a missão que eles cumprem em nossas vidas tem prazo de validade determinado. Foram poucos os meses de convívio, mas cheios de ensinamentos. Pude aprender sobre amizade, devoção e dependência. Aprendi um pouco sobre o comportamento do animal, aprendi um pouco sobre sua rotina diária, mas o que aprendi, realmente, foi sobre o verdadeiro e incontestável amor que existe entre o cão e seu dono.
O céu dos cachorros agora deve estar em festa. Tenho certeza, que se este lugar existe mesmo, é um lugar muito legal, cheio de bolas, biscrocks, ração e postes - e nada de pulgas. Deve ser um descampado lindo, cor de rosa, cheio de flores, com sabor de algodão doce, cheio de paz pra acolher estes nossos amigos que nos ensinam tanto todos os dias.
Certamente é um lugar muito, mas muito melhor, que este nosso mundo cão.

Para Bobinho.

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Hora do banho


Quando Frederico era menorzinho (agora ele já ostenta orgulhosamente seu status de um rapaz de 4 anos) a rotineira tarefa daquela higiene pessoal chamada banho ainda não era uma tarefa tão árdua. Não era necessário ainda todo jogo de diplomacia e estratégia que hoje sou obrigada a utilizar, toda vez que a palavra banho é pronunciada.
Numa dessas aventuras deste período longínquo, dentro de um “box blindex classic” embaçado pelo vapor da água quente, tive uma das maiores e mais hilárias derrotas de toda a minha carreira materna.
Estávamos nós, enquanto ainda nos divertíamos com espumas e shampoos, quando ele me pediu para que desenhasse um coração no box embaçado. Como toda mãe melosa e artista, desenhei um coração robusto e escrevi com letras garrafais a palavra FRED dentro dele.  Perguntei, na esperança que ele pudesse identificar as letras e saber que ele preenchia todo aquele espaço - até mesmo dentro daquele coração embaçado da porta do blindex - o que estava escrito e ele me respondeu, de pronto: Frederico. 
“Agora eu, mamãe, agora eu!”, me pediu ansioso para desenhar na mesma hora outro coração embaçado, enquanto ele, com o dedo indicador, rabiscava algumas coisas dentro dele. “Olha o meu, mamãe” exibia ,  orgulhoso, sua mais nova obra de arte.
Com um sorriso nos lábios tolos de mãe, na esperança de estar também contida em todo aquele espaço, ainda que naquele coração embaçado do blindex, exclamei: “Nossa, que lindo, filho! E o que está escrito?”
E ele, sem pestenejar, me respondeu, com toda a certeza do universo:
“Peter Parker!”

sábado, 21 de agosto de 2010

Minha Imperatriz


Num período de questionamentos da minha vida, especificamente no início de 2009, recorri ao Tarô como forma de autoconhecimento. Não sou intuitiva, nem tampouco estudiosa, não fiquei aberta aos insights, nem passei a dar consultas (rs). Mas foi um período muito legal de estudo, sobre os Arcanos Maiores e suas inclinações, assim como a iconografia das cartas...E durante todo curso, curiosamente, a carta da Imperatriz aparecia nos meus jogos, como que um alento, como um aviso para que eu tivesse calma, pois o fruto do meu trabalho e esforço um dia seria recompensado...


A primeira vez que vi a cara da Imperatriz – e era a mesma do tarô mitológico – foi um mês antes de descobrir que estava grávida, em uma consulta com uma grande numeróloga, lá em Niterói. Nesse momento, a Imperatriz me mostrava que Frederico já estava pronto para me presentear a incrível descoberta da Maternidade – um bebê enorme, um menino, Clarisse me dizia. Não deu outra. Meu filho já me rondava naquela época, somente aguardando o momento de encarnar.
Se fizer uma reflexão um pouco mais profunda, acho que durante toda a minha vida, vivi a Imperatriz. Nasci numa família de mulheres, com um único homem no comando. Família tradicional, de subúrbio, com educação e padrões morais rígidos. Sempre estive meio fora daquele contexto, meio fugindo as regras. Trabalhei muito cedo, segui minhas vocações. Busquei minha independência. Fui morar sozinha. Me casei, por amor e por vontade, mas aquela cerimônia religiosa era muito mais para dar satisfação à família do que por vontade própria. E mesmo dentro deste casamento, que aos poucos foi transformando a minha própria essência, eu era aquela que fazia, a que efetivamente realizava, a que tinha as responsabilidades com a casa, com o filho, com o outro. Imperando.
Sou geminiana. Não entendo muito dos signos, nem de astrologia, mas posso perceber características geminianas em muitos dos meus defeitos e das minhas virtudes. Uma dessas vertentes é a criatividade e meus vários talentos (olha a Imperatriz aí de novo) – gosto de escrever, sou artesã, estou sempre buscando aprender e fazer coisas novas. Minhas mais recentes aventuras são o tênis – que um dia ainda aprendo, tenho fé – e as corridas de rua. A última empreitada me rendeu 10km no aterro. Movimentação constante, afinal, sou signo de ar.
Quanto à feminilidade, concordo que tenha estado meio adormecida, após esse período meio dormente por conta da separação. Ressurgiu, ainda em ebulição, o que havia sido esquecido – não de fato eliminado, pois mesmo tendo sido uma criança meio nerd, de óculos e maria-chiquinhas, sempre me considerei uma “espécie feminina” interessante. Talvez a Imperatriz esteja querendo me mostrar que de fato, esta “Sandra” deve mesmo despertar, deve voltar à cena.
Quando soube que a Imperatriz queria me falar sobre realização, sair do teórico e ir para prática, me lembrei de uma frasezinha típica, que sempre escuto toda vez que me consulto com alguém: “Você tem mãos de cura”.  Mas o que poderia fazer para efetivamente para, que nesta busca do meu autoconhecimento, eu pudesse efetivamente fazer as coisas acontecerem? Como eu poderia usar meus dons e talentos para o bem, para o bem-estar do outro, para ajuda do outro, para a caridade? Como posso transformar essa necessidade em uma experiência que me leve em direção ao meu autoconhecimento? Bem, sempre me questionei muito sobre o que realmente estou fazendo neste planeta. Qual a minha missão? O que esperam de mim? Não é possível que a minha passagem por aqui seja meramente a passeio, como dizem, existe algo maior na minha essência, que urge, que precisa, que sabe que existe algo maior a ser feito. Essa busca incessante ora está adormecida, ora está efervescendo como agora - e confesso que ainda meio trôpega, ainda se acostumando com as bússolas e mapas disponíveis. O autoconhecimento não é um destino - Marcelo, meu mestre do Tarô, havia me dito. È um caminho construído, edificado dia-a-dia. E eu não consigo desvencilhar a imagem do autoconhecimento ao do desenvolvimento da minha espiritualidade. Ainda não sei se isso tem haver com religião. De tudo o que conheço não encontrei nada ainda a seguir. Acho que não sou daquele tipo que aprecia a “sopa de letrinhas”, mas talvez meu consciente bloqueie aquilo que não consigo entender. Tá na hora de me abrir aos insights. Ta na hora de confiar no Papa, para que ele se torne um Eremita.
Esta noite eu dormi profundamente. Dormi com a carta da Imperatriz. Não sonhei com nada específico. Ainda me sinto muito crua e aprendiz, muito novata. Sei que preciso espiritualizar-me mais – talvez por isso a aparição do Papa nos meus últimos jogos.
O que preciso? Deixar-me conhecer. Compartilhar experiências. É isso que levamos dessa vida. Um pouco de todo mundo que conhecemos.
Tenho certeza que o Tarô irá me ajudar – e muito – a me redescobrir.
A descobrir minha Imperatriz. Diariamente.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Sai Zeitona, entra Malagueta

Pra início de conversa, nunca gostei muito de dirigir. Tenho carteira desde os 19, mas como sempre tive alguém pra fazer as vezes de motorista, nunca precisei me aventurar ao volante. Minha irmã sempre dirigiu o carro do meu pai e nas suas andanças, sempre retornava, aliado aos amassados da lataria, com algum prejuízo ao bolso paterno. Diante deste fato, como toda boa filha e samaritana, prometi a mim mesma que só dirigiria o meu próprio carro (silêncio). Vivi tantos anos na dependência dos outros que hoje não acredito como pude andar tanto tempo à pé.
Meu primeiro carro (apesar da minha contribuição neste caso ter sido restrita ao financeiro) se chamava Alfredinho. Tive outros e muitos outros, alguns nunca dirigi, outros viraram parte do meu apartamento - mas o carro que foi MEU mesmo, filho de pai e mãe, com o mesmo sobrenome, foi o Zeitona.
Esse pequeno guerreiro verde de quatro rodas foi um dos grandes pilares para a definitiva conquista da minha independência. Zeitona me fez entender que eu era capaz de domar a máquina, que eu podia sim, acelerar, debrear, frear, passar a marcha, olhar nos 3 retrovisores, ligar as setas e ainda verificar se o rímel não havia borrado, no “ quick make up ” durante o sinal fechado.
Zeitona me carregou pro mundo. Me levou pra Lapa nas noites de sexta, me levou ao shopping e ao cinema, e à árdua tarefa mensal de ir ao supermercado. Já saiu abarrotado de doações pros desabrigados das enchentes e foi o primeiro a me fazer pegar a estrada, durante o carnaval de 2009. Zeitona me levou, nas madrugadas da vida, atrás das emergências pediátricas do Rio, e me fez até reaprender matemática, na ânsia pelo entendimento do estranho cálculo da porcentagem limite do excesso de velocidade, e a soma dos pontos que a gente perde na carteira por esses mesmos excessos.
Se Zeitona tivesse piloto automático ele subiria a Grajaú-Jacarepaguá de ré. Ele conhece cada curva, cada buraco, já desvia automaticamente dos cachorros que insistem em brincar no meio da pista. Zeitona já passou vários sufocos na Grajaú - pneus furados e enchentes - e esteve sempre lá, firme e forte, quase um gladiador. Ele foi o meu mais fiel companheiro nesses quase dois anos de convivência.
Agora, Zeitona pertence a outra família. Ainda bem que é uma família do bem, com princípios, que vai tratá-lo com o carinho que merece, que já o adotaram como filho. Zeitona fará meus amigos felizes, tenho certeza, e os levará a vivenciar novas e incríveis aventuras pelas estradas da vida.
Dizem que carro bom é aquele que nos leva pra onde quisermos.
Zeitona não era bom, Zeitona era ótimo.
Zeitona só não me levou pra Lua.

Pros que, assim como eu, sentirão saudades: Michele, Cleide, Sil, Pedro, Paula (com e sem Miguel), Ana Cristina e Marcão – Malagueta ta na área.
E como diz o Beto: o meu fraco é um horti-frutti.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Porque eu amo massagem nos pés

Frederico pegou, junto aos meus perfumes, um vidro de óleo seve. Me perguntou, com sua vozinha de anjo: “É do papai?” E eu respondi: “Não, é da mamãe. Deixe isso aí e vamos dormir.” Não satisfeito com a minha negativa, agarrou o vidro e levou pra cama. Mais uma vez me indagou: “Que isso, mamãe?” E eu respondi, não querendo me alongar: “È de fazer massagem nos pés.” Ele me olhou com seus olhinhos de estrela, ainda esperando entender pra que servia aquilo. “Quer que a mamãe faça em você?”, perguntei, sabendo que minhas explicações ainda não haviam sido convincentes. Ele balançou a cabeça, fazendo que sim. Coloquei óleo nas mãos, esfregando-as uma na outra e comecei a massagear seus pezinhos: os dedinhos pequenos escorregando pelos dedos, o calcanhar que cabia certinho na palma da minha mão, arrancando gargalhadas sonoras, sorrisos e risadas que soaram como música aos meus ouvidos de mãe. “Eu, eu, mamãe!” Ele disse espalmando as mãozinhas pra que eu colocasse óleo nelas, da mesma forma que eu havia feito. “Muito!!!” Reclamou ele prontamente da pequena quantidade oferecida. E com seus dedinhos gordinhos, suas mãozinhas de veludo, com sorriso de algodão doce nos lábios, foi acariciando meus pés, descoordenadamente, satisfeito por estar sendo confiado a uma tarefa tão importante.
Maior do que a gostosa e surpreendente certeza de que meu filho repetia, como um carbono, aquilo que eu - seu exemplo – fazia, ainda que dentro dos seus limites de bebê, foi a deliciosa sensação daquela carícia, que ainda ficou nos meus pés – e no meu sorriso orgulhoso de mãe - pelo resto da noite.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Adeus, 2008!

Como todo texto de ano novo, são muitas as promessas... e no final de 2009, talvez somente algumas realizações... rsrsrs

Adeus, 2008.
Não, não foi de todo ruim. Tenho implicância com os anos pares, confesso. Criei uma certa resistência. Sempre acho que no ano impar as coisas funcionam de forma diferente. É que 2008 foi um ano de atribulações. Ano de reflexões e de mudanças. Pude experimentar diversos sentimentos neste ano. Alguns tão bons e tão intensos, outros tão incrivelmente dolorosos.
Não, não é culpa do ano, definitivamente.
Talvez o que me faça querer hibernar até a chegada de 2009 é a esperança. Esperança de que tudo dará certo (mesmo com problemas antigos), esperança de novos sentimentos, novas aventuras, novas descobertas, novos amigos, novas paixões. Esperança de que todo o sofrimento será recompensado, de que existe SIM uma coisa boa que espera a cada um de nós, do outro lado do arco-íris. Esperança de que serei uma pessoa melhor, mais humana, menos falha, mais amiga, mais feliz. Seria bom se eu pudesse hibernar até lá.
Como todo fim de ano já me propus novas metas: cuidar do meu corpo e do meu espírito, ouvir mais, calar mais, viver cada vez mais e mais intensamente, valorizar aquilo que merece meu valor, evoluir.
Evolução. Evolução é a palavra chave do meu 2009.
Em 2009 eu vou mudar de camiseta. Vou arrumar meu coração e minha casa. Vou deixar as mágoas e angústias em 2008. Vou chorar menos. Vou sorrir mais. Vou simplesmente flutuar, me deixar levar pelo inesperado. Não vou me preocupar com o depois, com o correto, com as imagens, com bobagens. Vou fazer aquilo que tenho vontade, vou errar, vou acertar, mas, sobretudo vou continuar tentando... e muito...
Porque tolice é deixar a vida passar em calmaria, quando temos o leme de nosso destino bem nas nossas mãos.
Que venha 2009!
Estou pronta agora.

domingo, 15 de agosto de 2010

The beginning

Desde nova me atrevo a escrever. Algumas coisas bem legais, outras horrendas – como se fizessem parte de algum caderno de redação do primário... Poucos foram aqueles que tiveram acesso aos meus textos – mas entendam, isso nada tem haver com privilégio: a não divulgação desta minha faceta se deu por pura falta de comprometimento à minha criatividade - que a minha alma geminiana insiste em fazer emergir aos milhões com o passar dos segundos...
Então, decidi que já era tempo de compartilhar algumas coisas... Já que já não sou mais novinha há bastante tempo e minhas experiências já não fazem mais parte daquele caderno – vamos tomar como aliado o avanço da tecnologia para colocar alguma coisa no papel, quer dizer, na tela...
Alguns textos são antigos, outros mais recentes. São retratos de diversos momentos: surtos felizes, crises existenciais e, é claro, as infindáveis e divertidas derrotas... como um raio-X daquele exato instante, eu tento, em palavras, contar um pouco daquilo que está bem aqui dentro da minha cabeça...
Espero que gostem das minhas sandrices...