sábado, 28 de agosto de 2010

Mundo cão



Lá em casa, além dos canários do meu pai e dos peixes japoneses, o que tive mais próximo de um pet foi uma coelha. O nome dela era Gorby. Roeu todas as portas e fios da casa, mas o que incomodava mesmo era o xixi no sofá. Porque cocô de coelho é fácil de limpar, né? Vem sempre em bolinhas. Minha irmã bem que tentou uma vez adotar um gato pra família, mas meu pai nunca foi muito fã desta conjugação bicho-apartamento.
E quando não se tem mesmo muito contato, não se entende muito bem essa ligação estranha entre o homem e o animal.
Depois, minha proximidade com o mundo canino, foi com a família do Gustavo, que tinha o Luke. Ele era mistura de Yorshire e Poodle, depois de uma descarga elétrica, com os pêlos pra cima. Luke era um amorzinho, morria de medo de fogos de artifício e colecionou zilhões de estórias engraçadas, como o pavor que tinha de carros, ou o dia em que ele fugiu pro apartamento em obras do vizinho e, os pintores, sem notá-lo, o tracaram lá dentro... Lukinho viveu bastante tempo, Frederico ainda brincou com ele. Morreu bem velhinho, quando já não interagia mais com ninguém.
Meses atrás, conheci o Bob e o Bambam, os beagles do Vito. Bambam, o filho e líder, não é muito de dar confiança pra ninguém. Pose austera, porte firme. Olhos amendoados, pelagem castanha. Nervosinho e briguento, meio provando o que as pessoas dizem que o cachorro reflete um pouco a personalidade do seu dono.
Bobinho, como era carinhosamente chamado, o pai, era mais dócil. Saía latindo e abanando o rabinho, naquela atitude de quem não quer briga, só farra. Carente, grudento, manhoso, companheiro. Me lembro quando Vito me contou sobre a primeira vez em que o viu: foi como daquelas coisas de cinema, tipo amor à primeira vista. “Esse cachorro é meu”, tinha dito para si mesmo. E foi.
Frederico fazia o que queria dele. O fazia de cavalinho e levantava suas orelhas como as de um coelhinho. Gargalhava, numa mistura de nervosismo e nojo, com as lambidas dos cachorros no seu rosto. Quando saíamos pra passear, Frederico se sentia orgulhoso, me ajudando a segurar a coleira do Bob.
Quase ao mesmo tempo, conhecendo um pouco mais da Bella, minha estagiária, ela me fez tentar entender, com sua doação e solidariedade aos animais, o que faz alguém recolher cachorros na rua e sair em busca de um novo lar pra eles. Percebi que esta ligação, invisível aos olhos de quem nunca conviveu com os animais, é tão forte quanto vínculos de sangue, vínculos de convivência, de família. O animal se torna sua parte, seu companheiro, sua metade. Ele depende de você pra se alimentar, pra ser cuidado. E você passa a depender daquele amor gratuito e incondicional que ele te devota, ainda que expressados em forma de festa, lambidas e latidos.
Mas, o ciclo de vida dos bichos é diferente. Curiosamente, a missão que eles cumprem em nossas vidas tem prazo de validade determinado. Foram poucos os meses de convívio, mas cheios de ensinamentos. Pude aprender sobre amizade, devoção e dependência. Aprendi um pouco sobre o comportamento do animal, aprendi um pouco sobre sua rotina diária, mas o que aprendi, realmente, foi sobre o verdadeiro e incontestável amor que existe entre o cão e seu dono.
O céu dos cachorros agora deve estar em festa. Tenho certeza, que se este lugar existe mesmo, é um lugar muito legal, cheio de bolas, biscrocks, ração e postes - e nada de pulgas. Deve ser um descampado lindo, cor de rosa, cheio de flores, com sabor de algodão doce, cheio de paz pra acolher estes nossos amigos que nos ensinam tanto todos os dias.
Certamente é um lugar muito, mas muito melhor, que este nosso mundo cão.

Para Bobinho.

5 comentários:

  1. Linda homenagem, para um lindo amigo...

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  2. Me emocionou muito...tenho aprendido a vivenciar este amor incontestávelmente incondicional com meus 2 filhos felinos...hj afirmo: como é bom para nossa alma humana conviver com os animais!!! Fico feliz de vc estar tendo esta experiência amiga....bjks

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  3. Ah Sandra, que lindo! Viu como eles ensinam grandes lições pra gente? Gandhi dizia que "A grandeza de uma nação pode ser julgada pelo modo que seus animais são tratados."
    Beijos!

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  4. Ok, chorei, sou mãe doida de canino...
    nós, as mães emotivas do pré I.......
    beijos pra vcs, Bob tá de anjo-cão-de-guarda de todos, e curtindo a vida adoidado no céu canino.

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