terça-feira, 5 de outubro de 2010

Tratamento VIP

Embalada nesse clima meio místico, meio "Nosso Lar", lembrei de uma história por mim vivenciada há algum tempo atrás. Longe de mim as críticas a qualquer religião. To apenas retratando aqui uma experiência que tive, como outra qualquer. Minha mente sempre foi aberta a todas a religiões e suas práticas, mas confesso que sempre fui muito mais adepta a doutrina espírita e esotérica do que as outras.
Não sou estudiosa, nem praticante, nem defensora. Sou apenas curiosa.
E como a curiosidade sempre foi inquietante em minha alma, essa constante busca do não-sei-o-quê, me faz parar uma certa vez - num desses surtos de busca de paz de espírito e consolo - num centro de umbanda branca, bastante conhecido, perto de um grande shopping no subúrbio do Rio.
E lá fomos nós, eu e minha fiel escudeira Michele, amiga de fé e irmã camarada, no intuito da tão sonhada limpeza de alma, através dos passes magníficos que este lugar proporcionava. Sempre tem alguém que diz: ah, vai sim, eu já fui lá, é muito bom!
Michele, com suas crenças espíritas bem mais enraizadas que as minhas, me confirmou a idoneidade e eficiência do lugar, pois também conhecia outras pessoas que já se haviam beneficiado daquelas emulsões de luz e energia...
Chegamos cedo, mas a fila já estava enorme. Era dia de atendimento de caboclo. Cada dia tinha uma entidade que atendia: tinha dia de vovó, de preto velho, essas coisas que não entendo. O lugar parecia uma igreja enorme, com uma grande platéia e um palco bem grande. Neste palco os mediuns trabalhavam, todos eles vestindo branco, todos eles no palco, atendendo ao mesmo tempo. Pegamos uma senha, todas felizes, afinal estávamos ali doidas pra dar um trato no nosso espírito.
Antes porém, tentando usar um pouco de educação e simpatia, fomos na sala da "gerência" pra saber como funcionava o esquema, se tinha que pagar alguma coisa, como era o trabalho que eles realizavam...
O gerente do lugar, a princípio, nos recebeu com um ar meio arrogante, meio autoritário. Não sei o que se passou na cabeça dele. Ele percebeu, obviamente, que não éramos dali. Não sei se ele achou que estávamos ali pra investigar ou testar alguma coisa. Bem, a conversa foi evoluindo e depois ele percebeu que éramos do bem e, por sermos novas e completamente estranhas naquele ninho, disse que nos daria tratamento VIP.
Lá fomos nós, eu e Michele, pro salão, no aguardo de chamada do nosso tão esperando número de senha. Tinha gente pra cacete. Muita, muita gente esperando. E nós também. A empolgação já tinha deixado o ambiente há muito tempo. Nem mais papo a gente tinha.
Já eram quase 22h da noite - detalhe, chegamos por volta das 18h - quando a pessoa que organizava as senhas, falou que era pra todo mundo subir no palco, que não ia mais seguir senha nenhuma. (como assim?)
Já estávamos exaustas, tiramos os sapatos e entramos numa fila.
Comecei a pensar que aquela limpeza deveria ser boa mesmo, visto que nós estávamos há horas esperando ali. Lá no palco, observamos os médiuns e as pessoas que eles atendiam. Tinha um coroa lá que todo mundo que ele atendia começava a dançar, meio que entrava em transe, a receber santo. Michele me disse que ele chamava pelo santo da pessoa, que ela não queria ser atendida por ele, não.
Comecei a sacanear a minha amiga, e dizer que na hora que ela fosse atendida, a pomba-gira dela iria incorporar e ela ia começar a sair rodando, e eu ia sair correndo e deixar ela ali sozinha. Ela só me dizia que não, nada haver, isso não iria acontecer mesmo.
De repente, o tal gerente subiu no palco, falou com a moça das senhas - que a esta altura também já estava dando atendimento - e apontou pra nós duas.
Suei frio.
A moça pediu pra que nós saíssemos da fila.
Falei: “Michele, f#deu. Devemos estar muito carregadas, amiga. Tiraram até a gente da fila”.
Começou aquele misto de riso e nervoso, cansaço de mais de 4 horas de espera e medo - aquele cagaço do desconhecido, medo das forças ocultas, medo do castigo divino, medo da minha alma não merecer aquele olhar espiritual...
Resumo da ópera: Fomos as últimas a ser atendidas.
Michele foi primeiro. O atendimento dela foi rapidinho - como assim? ela tá mais limpa que eu?
E lá fui eu. Quem me atendeu foi a moça das senhas, que incorporava o chefe dos caboclos daquele dia. Me falou algumas coisas meio óbvias - quem procura esses lugares sempre busca um conforto espiritual, uma frase amiga, um chocolate, enfim, qualquer coisa pra dar aquele ugrade no ânimo. Depois veio uma criança e depois um desses homens de povo de rua. Cara, minha cabeça embananou e não sei se era cansaço, não sei o que era, mas o cara lá me mandou fechar os olhos e começou a cantar uma música. Senti minhas mãos formigarem e um soninho esquisito veio vindo, me senti balançar e um zum-zum-zum na minha orelha... Bem, acabou, recebi um abraço afetuoso da entidade e tratei de sair dali o mais depressa possível.
Quando vi, Michele estava sentada no banco e ria.
Falou que meu santo quase tinha virado.
Eu nem sabia que tinha santo, ainda mais que ele virava alguma coisa.
Nunca mais voltei lá. E nem quero passar perto. Da experiência positiva, só mesmo o mico da noite. Não é a minha, definitivamente.
Fikadika: (como diz minha amiga Aninha) se algum dia for a algum desses lugares, pega sua senha e fica quietinho. Nada de querer fazer social e falar com o gerente. Quanto mais anômino melhor.
E se sua acompanhante tiver alguma noção daquilo que tá falando não tira onda: afinal, Caboclo nos olhos dos outros é refresco.

2 comentários:

  1. pomba-gira rodando nos olhos dos outros é refresco, rs,rs,rs,rs
    o santo deve ter pensado, vou dar uma limpada naquela alí toda enturmada, rs,rs,rs

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  2. Amiga, vc tava mais carregada que eu sim rs rs

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