sexta-feira, 3 de maio de 2013

Reencontro

Texto antigo na gaveta dos achados e perdidos. Um pouco coberto de pó, mas repleto de luz. Quer falar. Sai da gaveta e se mostra. Por si só.

Já era tarde e ela continuava sentada, sozinha, no meio do todas aquelas pessoas. Como ela estava dirigindo – a promessa é que ela o levaria de volta pra casa, já que marcaram em lugar perto – se permitiria somente um chopp, no início do papo, que ela esperava ser evaporado durante o passar das horas. As pessoas deveriam se questionar o que ela estava fazendo ali sozinha – sentada em uma mesa no fundo do salão, entre casais e grupos de amigos animados, se distraindo nos joguinhos do celular e bebendo água, ora olhando pra rua, ora pra TV de plasma a sua frente – enquanto o burburinho do início daquela sexta-feira ocupava aquele bar lotado na Zona Sul. Ela estava esperando – não tinha como disfarçar, estava ansiosa – ele chegar.

Há quanto tempo não se viam? Uns 4 anos, pelo menos?... A última vez, havia sido na calçada, numa noite de verão, em frente à farmácia: ela voltando a pé pra casa, ele conversando com um amigo. Uma troca de poucas palavras e sorrisos, meio desconexos e travados, e menos de cinco minutos depois cada um voltava para dentro do seu universo: onde o outro não pertencia mais, já fazia um longo tempo...

Ela, por conta de uma informação profissional, tomou a iniciativa de procurá-lo. Um encontro casual pela internet resultou em horas de bate papo, primeiro na tela, depois pelo telefone. Foi bom rirem novamente juntos, descobrirem o que haviam feito nesse período de total ausência, e descobrirem que, por mais que a passagem de um na vida do outro houvesse sido desastrosa, ainda restaram muitas coisas boas para se lembrar... deu uma vontade de estar junto novamente...

Finalmente, ele chegou e veio em sua direção... Parecia feliz em reencontrá-la... Os cabelos grisalhos acentuaram a certeza de que, apesar da ansiedade insistir em transformar em segundos, foram muitos os anos de ausência... Sentiam-se adolescentes, quando ela, enfim, pediu o chopp e brindaram ao reencontro...

O papo foi interessante. Falaram sobre quase tudo – os anos que passaram e o que fizeram, novos amigos, novos amores, trabalho, situações divertidas e perdas... e sem mais nem menos, no meio daquele burburinho e tintilhar de copos, ele a olha no fundo dos olhos e  fala do que sentiu. Do que sofreu, do que chorou. Do quanto ela foi importante, do quanto duvidou de tudo. Ela chorou. Chorou pelo que esqueceu. Pelo que fugiu, pelo que perdeu. Chorou pelo que duvidou.

Ela achou bom poder sentir os dedos entrelaçados novamente. Se olharem sem mágoas. O tempo havia sido sábio, toda dor havia ficado pra trás e eles podiam estar inteiros um em frente ao outro novamente. Era um ponto final. Podiam enfim, continuar.

Nem que fosse continuar cada um com a sua vida, com as suas escolhas. Mas estar em paz com aquela parte tão turbulenta de suas existências, estar em paz com seu interior, estar em paz com o Universo. Continuar, cada um com seu caminho, mas de fato admitindo da importância inquestionável que um teve na vida do outro. “Closure”.

Saíram dali ainda atônitos. Na porta de casa, a hesitação do que fazer: não, ela não queria que ele se fosse de novo. Não, ele não queria perdê-la de novo... E então, ele se afastou andando... e se foi.

E dirigindo de volta pra casa, ainda atordoada, olhou pro céu e avistou a lua. Estava cheia, linda, redonda, robusta - bem em cima da sua cabeça - e parecia abençoar aquele reencontro.

Enfim, poderiam retomar suas histórias.

Ou começar outra nova.

Novinha em folha.

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