
Primeiramente, gostaria de lembrá-los que não sou surfista. Nem passei a andar com meninos que vestem bermudões abaixo da cintura expondo com orgulho suas cuecas e cofres, enquanto deslizam sobre seus skates em half-pipes, fazendo manobras de nomes esquisistos tipo drops e flicks-flacks que desafiam as leis da gravidade. Apesar de com orgulho exibir meu atestado de “ninja girl” – afinal, pra mim nada é impossível - a aventura que vos relato é tão radical quanto, quiçá a mais radical de minha inteira vida.
O tubo a que me refiro é o equipamento necessário para a realização daquele tal de exame de ressonância magnética, que minha lombar em início de deterioração, após constantes reclamações, passou a me exigir. Aconteceu ontem à tarde, depois de um dia absolutamente atípico: uma manhã atribulada após uma noite mal dormida, combinada com comprimidos de relaxamento muscular.
Após uma breve estada em uma salinha minúscula chamada vestiário, onde tive que colocar um avental ridículo, com sapatilhas ridículas – um modelito apropriado pra um fim de semana em uma clínica geriátrica – e uma espera aproximada de uns 30 minutos, lá fui eu, acompanhada do médico gordinho chamado João, praquela sala que mais parecia a antecâmara da Enterprise. Após as perguntas usuais se eu tinha algum metal no corpo, algum tipo de fobia, falta de ar, essas coisas todas (até então desconhecidas para mim), fui orientada a deitar naquela bandeja em forma de cama (minha primeira ilusão) rumo a minha mais recente derrota. Até então eu estava achando tudo normal. João me colocou um travesseirinho fofo, me orientou com a questão do botãozinho vermelho pra qualquer emergência, me colocou um edredonzinho lindo, e eu fui me sentindo tão feliz, tão fofinha, tão quentinha, tão querida, já pensando que seria tranqüilo aquele exame, rapidinho estaria longe dali. Primeiro grande erro: caí na besteira de perguntar ao João quanto tempo demoraria e ele me respondeu em torno de 25 minutos, SE eu não me mexesse.
Pois, a caminha começou a entrar no tubo, o travesseiro já começou a apertar a minha cabeça. Fechei os olhos. Foram os 30 segundos mais longos e horripilantes da minha existência. Abri os olhos e eu continuava entrando no tubo, fechei de novo.
O cara que inventou esse tipo de exame devia ser, além de gênio, um sádico, pois é praticamente impossível não sentir pânico dentro do tubo. Xinguei mentalmente a mãe dele. Abri novamente os olhos e a única coisa que veio a minha cabeça era que eu não conseguir ficar 25 minutos dentro daquela coisa. Começou a me dar taquicardia, falta de ar, pedi perdão pelos meus pecados, descobri a claustrofobia, senti saudades do meu filho, queria a minha mãe, tudo ao mesmo tempo.
Pois é, amigos, amarelei.
Pedi penico.
Fugi da raia.
Perdi, meu irmão.
E confesso que antes de me lembrar da porra do botão vermelho na minha mão, chamei pelo João lá de dentro da máquina. Maior mico.
João me tirou de lá pálida, sem nenhuma gota de sangue. Coitado, ele já devia estar acostumado a ver cenas como aquela. Nem questionou a possibilidade de me recompor e tentar mais uma vez – o que, obviamente, mesmo se isso fosse cogitado, estaria fora de questão. Me falou do tal exame com a máquina aberta – ta de sacanagem? Ninguém avisa ANTES que existe uma máquina aberta? – mas que não havia vaga para aquele dia.
Saldo da tarde: além da derrota, que foi seguida por alguns minutos de vergonha, lágrimas contidas e posteriormente gargalhadas (por parte dos amigos, é claro), me senti um pouco melhor ao conhecer na recepção da clínica (enquanto eu tentava cancelar o exame) um cara forte, de quase 2 metros de altura batendo o pé com a esposa, dizendo que não entrava no tubo de jeito nenhum. Um sorrisinho contido me veio aos lábios. Ainda continuava ninja, afinal.
Bem, como disse Silvana, após essa experiência, sou uma mulher que nunca entrarei pelo cano.
Tubo agora, só no surf. E olhe lá.