terça-feira, 20 de setembro de 2011

Baleia é a mãe!



O alvoroço se deu naquele início de noite, ainda dentro do carro. Frederico sempre “esquece” ou “não sabe” como foi seu dia, mas dessa vez, veio a pergunta, certeira, durante as manobras, já dentro da garagem:
- Mamãe, orca é baleia?
E a minha resposta, enfática, a queima-roupa, sem pestanejar:
- Claro, meu filho!
- Mas, a tia falou que orca não é baleia.
Uma pequena pausa e a mãe (nesse caso, eu mesma) indignada, responde, sem perder a veemência inicial:
- Não, meu filho, orca é baleia SIM.
E ele me retruca, com a mesma convicção, no auge da sapiência dos seus cinco anos:
- Mas a tia falou que não é – e ainda complementa – Ela falou que orca come foca, pingüim...
- Mas é baleia, filho!
- Mas a tia falou que não é...
Silêncio e revolta. Ainda bem que criança muda logo de assunto, mas aquela questão ainda fervilharia na minha mente pelo resto da noite.
Mais tarde, durante o encontro dos “amigõeszões” no shopping, enquete no mundo materno e a pergunta que não quis calar durante todas aquelas horas de sofrimento: seria a Orca uma baleia? Pra mim e para outras mães, o raciocínio era lógico, pois existia até um filme: “Orca, a baleia assassina”. Para outras, não tão convencidas assim, a semente da dúvida foi plantada... E no meio do debate intenso – e eu já pretendia denunciar a escola ao MEC – arriscávamos perguntar às crianças que corriam ensandecidas no meio do shopping, mas nenhuma delas quis nos confirmar nossas suspeitas iniciais, de que uma mutação genética havia transformado a família animal do ser em questão.
Eis que Cris, professora e telespectadora do Discovery Channel, nos informa que a tia estava certa. Orca não é baleia. Orca é da família dos delphinidae, nome artístico dos golfinhos.
Pára tudo! Como assim?
Plutão não é mais planeta, o trema caiu depois da reforma ortográfica e agora a Orca não é mais baleia? Senti como se os anos de estudo no ensino fundamental e médio (que na minha época se chamavam primário e ginasial) escorressem pelos meus dedos e de nada mais valessem.
Como explicado em e-mail posteriormente (mas só me convenci depois de checar o Wikipédia) a culpa foi do tradutor do filme que achou que “Orca, o golfinho assassino” não emplacaria na bilheteria. Quem sabe o sindicato dos golfinhos entrou com recurso e censurou o nome do filme em prol das orcas – na verdade a versão trash dos golfinhos, que não conseguiu trabalhar o sentimento na terapia e descambou pro lado negro da força. Me sinto, assim como alguns amigos com quem compartilhei essa descoberta, como a criança que acaba de descobrir que Papai Noel é na verdade um tio da sua amiga, que sua mãe pagou pra ir na sua casa entregar um presente (fato verídico)... me pergunto como Sérgio Chapelin estará se sentindo com a trágica notícia que abalou o mundo científico, após tantos anos apresentando a vida marinha no Globo Repórter. Meu amor pelos golfinhos, aqueles seres inteligentes e adoráveis, ficou profundamente abalado.
Ramon, meu biólogo favorito e primo, deveria ter me preparado para a notícia.
Com o meu mundo em pedaços sigo, preferindo me voltar para o traço do concreto, que é uma fórmula puramente matemática.
Enfim, baleia é a mãe, não a Orca.
Animal Planet, preciso de você.

Pela polêmica no FB e frases que contribuiram para este texto, meus agradecimentos: Tati, Pedro, Marcelo, Ma, Vivi, Bochecha e Suerda. E a Cris, que me explicou direitinho e tudo passou a fazer sentido.

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