segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Don´t cry for me, Argentina


Hola, que tal? Era a frase automática que tínhamos a dizer. Os meus três anos e meio de estudo da língua espanhola estavam há anos adormecidos, mas a semelhança com o português nos trazia um pouco mais de "intimidade" com o idioma. A dificuldade começou com o chofer que nos esperava no aeroporto. Mas os ouvidos aos poucos foram se acostumando com os diferentes sotaques falados na capital Argentina, e em pouquíssimo tempo já dominávamos o linguajar portenho.
Com o favorecimento do câmbio, Buenos Aires passou a ser um pólo de consumo. Tudo é mais barato por lá, portanto, o que mais nos foi indicado pelos amigos que já conheciam a cidade, era como chegar aos outlets. Mas nosso objetivo era outro. Dois arquitetos perdidos em BsAs, só poderia resultar em muitas andanças, avidez pelo conhecimento histórico, contemplação. É incrível como nossos olhares eram direcionados a monumentalidade das edificações, a resolução do sistema viário e urbano, a elegante e pacífica convivência entre o antigo e o novo, o requinte e o moderno. Buenos Aires é linda. Sim, com todas as mazelas de qualquer outra grande cidade, mas acolhedora, misteriosa e encantadora. Ou seria este encanto movido pelo meu estado de espírito apaixonado?
Meu encantamento começou por Puerto Madeiro, onde ficamos hospedados. Bairro novo, com apenas 20 anos, erguido no antigo cais do porto, à margem do Rio da Plata. Os antigos diques, grandes depósitos de baixo gabarito, construídos em tijolinhos aparentes (que vieram nos barcos ingleses como contrapeso, segundo informações de um taxista), hoje abrigam hotéis, faculdades, empresas e inúmeros restaurantes. O charme de Puerto Madero são os guindastes em toda a extensão do rio, como testemunho histórico da época em que ali ainda funcionava o porto. Uma urbanização impecável com mobiliário e iluminação urbana de eficiência., grandes praças arborizadas e lindo paisagismo. Bairro nobre, com grande policiamento, tranqüilo, acolhedor. Uma delícia passear por ali à noitinha, sentar numa daquelas praças do parque e contemplar a beleza da lua.
Grande parte da sua extensão é proveniente de aterro, onde novas construções de até US$ 6.000/m² foram erguidas. Grandes espigões espelhados somente evidenciavam o que sempre me disseram sobre Buenos Aires: que era uma cidade monumental. Pudemos perceber isso na largura das vias, na beleza e imponência de seus chafarizes, bustos e estátuas, nos detalhes preciosos de uma arquitetura renascentista. Construções ecléticas, pitorescas, um mix de estilos que empregam um charme todo especial a parte histórica da cidade. E desta forma, era quase que inevitável a comparação com o Rio de Janeiro: a calle Florida, às cinco da tarde, poderia ser facilmente confundida com a Uruguaina e seus camelôs espalhados pelas calçada; a Nueve de Julio era uma Presidente Vargas duplicada; Caminito seria uma mistura de Lapa com Santa Teresa, cheia de cores, cheia de gente, cheia de música, cheia de vida.
Desde minha época de estudante eu já ouvia falar da revitalização do Cais do Porto do Rio de Janeiro. Inúmeros foram os projetos que já foram feitos, propostos, engavetados. E vendo Puerto Madero tive vontade de ter essa beleza na minha cidade. Quis, num quase utópico desejo, que nossos armazéns também tivessem vida, tivessem estilo, tivessem beleza. Quis um calçadão e vias urbanizadas. Quis charme e requinte, quis movimento, quis pessoas, quis dignidade, quis respeito para o nosso cais, para a nossa cidade.
Muitas foram nossas aventuras na capital portenha.
Já voltei com vontade dos alfajores, de doce de leite, dos sorvetes do Freddo, da vista magnífica da nossa janela, de curtir a rivalidade gostosa entre Boca e River, da festa de família em Palermo, dos taxistas loucos no trânsito, das manifestações nas ruas cortadas.
Gracias, Buenos Aires.
Voltamos brasileirissímos, mas com a alma um pouquinho mais branca e mais celeste.

2 comentários:

  1. Estivemos lá há dois anos, primeiro em Mendoza, depois Buenos Aires. Bons exemplos, como o Puerto Madero, devem ser seguidos. E a oportunidade do Rio é agora... já está quase passando do ponto. Sobre as comilanças: a nossa mania de fotografar tudo o que comemos quando viajamos começou lá.

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  2. Buenos Aires é linda mesmo!
    Fui com duas amigas q estavam com olhar mais consumista mas consegui q fizessem passeios e vissem a questão visual e histórica sempre tão enriquecedora.
    Pena q vcs não foram à Colonia del Sacramento, segundos suas comparações, seria como uma Paraty, colonial e com construções portuguesas e espanholas dividindo harmonicamente o espaço e a importancia histórica.
    Mas isso é bom... já tem pelo menos um motivo pra voltar ou ir pro Uruguai!
    Beijos

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