quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Prazo de validade




Momentinho auto-ajuda
De tempos em tempos me proponho a dar uma faxina geral nas minhas coisas. Tá certo, de um tempo pra cá tenho sentido uma necessidade maior de que estes eventos sejam mais constantes, apesar da falta de tempo.
Dou uma geral em tudo, desde roupas, papéis, até pequenos objetos. Coisas que costumam ocupar espaço e que já não me servem de nada... Tenho uma gaveta das camisetas-que-um-dia-vou-usar. Todo dia olho pra ela e digo: putz, não vou me desfazer pq um dia vou usar... e nunca uso, obviamente. Um dia coloco elas pra jogo, junto com os sapatos que saíram de moda, casacos do inverno retrasado... Tudo vai terminar um dia indo embora.
Assim como bens materiais, tenho me exercitado também a verificar o prazo de validade das minhas emoções. Não me apegar a coisas que não me engrandecem, a sentimentos que não merecem a minha atenção, é um exemplo disso. A indiferença - feliz ou infelizmente, não sei ainda - já caminha comigo desde sempre, e se manifesta algumas vezes quando me decepciono com alguém. Então daí, partir para que qualquer sentimento bom ou ruim, em relação ao autor daquela ação, vá aos poucos perdendo a sua validade, é um caminho natural.
A prática é difícil, eu sei. Mas é preciso jogar fora os remédios que venceram. Não adianta ficar os mantendo na farmácia, pois não farão mais efeito, ou pior, ainda corre o risco de nos envenenar....Assim como se desvencilhar de papéis, contas pagas, bilhetinhos antigos, fotos 3X4 de gente que vc nem sabe mais por onde anda, é preciso jogar fora ressentimentos, decepções, indiferenças, perseguições e manias...
Vamos lá, minha gente, já não temos mais idade pra achar que o mundo gira em torno do nosso próprio umbigo, que carregamos a culpa do mundo nas costas, e que se não ganhamos presente no Natal, é pq não fomos bons garotos...
Um dos exercícios que venho praticando durante alguns anos (e bota anos nisso) é aceitar e reconhecer meus erros. Num tem ninguém na vida que nunca errou - por egoísmo, por infantilidade, por displicência, por falta de amor ao outro.
Sou daquelas que assume mesmo: fiz merda. Ponto parágrafo. Pula pra outra linha.
Acho que aceitar o "mea culpa" já é um grande passo para se alcançar a maturidade emocional. Nada dessa estória de querer imputar no outro - no chefe, no namorado, no marido, na mãe, no filho, no amigo - a responsabilidade pelos nossos atos. Pra isso, temos o livre arbítrio e a inteligência (uns mais, outros menos) - para sermos donos absolutos das nossas atitudes.
Então, Alice (aquela mesma, a do País das Maravilhas), pára de show e desce do palco! Somos e sempre seremos hoje consequência das nossas escolhas...
E como na faxina da casa, que a gente joga fora tudo aquilo que já não nos serve, vai ficar aquela prateleira vaga, um espacinho na gaveta pra uma roupa nova, um sapato, novos livros, novas fotos, qualquer coisa que possa ocupar aquele espaço e aquela energia que se instalou ali durante tanto tempo... nunca vi ninguém olhar pra gaveta vazia e se lembrar da camisetinha de malha puída da Oktober de 95 - que era velhinha, mas eu gostava tanto... então vamos parar de chorar pelo amor que acabou, pelo amigo que se foi, pela promoção que não veio...
Como no texto da Martha Medeiros, que é preciso se completar o ciclo sem sair na metade - curtir o doce do início e o amargo do fim - para que novas coisas aconteçam, assim tb é como na nossa "faxina da alma". Tá na hora de mudar a faixa do LP em que a agulha fica pulando. Novas músicas, novas melodias. Novos ritmos. Permitir-se. Virar a página. Sair à francesa. A gente pode achar que não é fácil. Mas ficar se fazendo de vítima, se achando o injustiçado do mundo, não ajuda em nada...
Eu mesma tenho feito minha faxina. Joguei fora rancores, perdoei atitudes, ME perdoei, pq reconheci os meus deslizes... Me permiti ouvir o outro... escutei, absorvi, entendi, raciocinei... concordei ou não, mas reconheci que cada um sempre terá suas razões. Joguei fora aquele remedinho escondido lá no fundo da prateleira que só me fazia ver somente sob a minha ótica - ele já tava pra lá de vencido...
Durante esta semana várias palavras passearam pela minha cabeça.
Comportamento, maturidade emocional, escolhas... Estórias ouvidas, situações vivenciadas, textos lidos...
E num insight veio esse lance de que tudo nada vida tem seu prazo de validade. Uns mais outros menos.
Claro que tem coisas que nunca perdem esse prazo e outras que deveriam ter seus prazos extendidos... depilação e unha da mão por exemplo? Depilação poderia durar uns 6 meses, unha deveria durar pelo menos 1 mês.
Quer saber o que tem prazo ilimitado? Boas sensações. A lembrança de um toque, cheiros. Risadas. Primeiro beijo. Se foi bom, bom MESMO - daqueles de surpresa no ponto do ônibus - nunca vai perder a validade... cheiro de bolo quente no forno... abraço de mãe... carinho de filho...
Então, galera, vambora faxinar a nossa alma... vamos jogar fora aquilo que não vale à pena... vamos perceber que a vida é uma só e ela passa muito rápido... vamos deixar de ser meros coadjuvantes... vamos fazer alguma coisa pelo nosso interior.

Taí o saco de lixo, a flanela e o Veja.
O resto é com vocês.

3 comentários:

  1. Show de bola Sandra !!! Os últimos parágrafos são ótimos !!!

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  2. Muito bom!!!
    Me fez lembrar uma música que adorava:
    "Hj joguei tanta coisa fora...vi o meu passado passar por mim...cartas e fotografias gente que foi embora... a vida fica bem melhor assim..."

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