sábado, 11 de fevereiro de 2012

Álbum de fotografias


No meio das caixas ainda desembaladas, no meio do projeto de um novo lar, vejo, dentro de uma sacola, um álbum de fotografias. Poderia dizer que foi o acaso, mas você bem sabe que a curiosidade geminiana foi a responsável por tal investida.
Não, não se preocupe. Conheço os seus limites e, sobretudo os meus. Não vou além do que me permito.
Desfolho cada página, das poucas que restaram daquele álbum velho. Aquele de espiral, onde as fotos eram cobertas por folhas de plástico colante... que tinha uma foto de montanhas com neve na capa e uma contra capa azul... Algumas dessas fotos você tinha me mostrado noutra noite, se lembra? Você riu ao se lembrar das suas histórias...
Acho as suas fotos de bebê em preto e branco e me pego imaginando como serão as feições daquele que daqui a pouco irá chegar... Me pego analisando a sua beleza de menino, sua postura de rapaz, quase um adulto – quando os cabelos ainda eram dourados e cacheados, quando as roupas ainda eram estranhas, quando as responsabilidades não eram tantas...
Enfim, na busca de algo que definitivamente me lembrasse você consigo identificar aquele sorriso, lindo - talvez a única semelhança com o que ainda tenho.
Vejo fotos de um noivado. Vejo fotos de gente que não conheço.  Vejo fotos que não deveriam ser vistas (risos). E no afã da busca – busca pelo quê efetivamente não sei, algo seu, algo que reconheça como seu – vejo fotos de você. Vejo fotos de outras pessoas. Vejo fotos de outras pessoas com você. Vejo outras fotos de você, mas... era mesmo você?
Por mais que me esforce, não o reconheço. Tento vivenciar aqueles momentos, me transportando pra eles, tento sentir as emoções deles. Não posso. Talvez, porque naquele passado tão distante, onde éramos tão ausentes da presença um do outro - onde já existia uma saudade daquilo que não se conhece, uma ânsia da busca pelo que não se sabe – ainda não havia se formado esta estranha ligação que temos, e que mesmo que quase dissolvida por longos anos, às vezes, ainda me causa espanto... Ali não havia um mínino de “eu” na sua vida. Trato de afastar aquele pensamento egoísta, lembrando-me também dos meus próprios álbuns e das diversas fotos onde o tempo não permitia nenhuma presença sua...
De fato, compreendo que quem ali estava não era você, apenas uma parte... apenas aquela parte de experiências vividas. Apenas aquela parte da sua juventude. Apenas um pouco daquilo que hoje você é.  E se não houvesse aquela parte? Hoje, não seria você. Tudo o que você viveu te transformou no homem que é hoje. Nada poderia ser mudado. Sua vivências - as pessoas, as dores, as alegrias – são as grandes responsáveis pela formação do seu ser. Não poderia ser diferente. Não era pra ser.
Você chega, olho pra você. É aquele sorriso de menino ainda, são os mesmos olhos, a mesma postura, mas diferente, mais completo. Adulto. Pleno.
Que bom. Que bom termos vivido tudo o que vivemos para sermos o que somos. As experiências, assim como as fotos – e as lembranças, e as pessoas, e as dores e as alegrias – irão, certamente, se amarelando e um dia se transformarão também num álbum velho – como aquele dentro da sacola – e só conseguirão retratar parte do que um dia fomos, ainda que tão importantes e tão dentro de cada um de nós.
Mas o sorriso, a essência, essa ainda estará ali, mesmo que confundida e camuflada pelos anos, pelas rugas, pelos vícios, pelos apegos e pelos cabelos brancos.
Fecho o álbum, devolvo a sacola para o lugar a que pertence. Sorrindo, entendo, finalmente o porquê de tantos desvios. Agora sim, estamos completos para vivermos o que for necessário.
Você voltou. Que bom.
Enfim, compreendo.
Agora sim, tudo está bem.

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