quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Terapia Ortodôntica (Amores possíveis)

Este post nasceu no exato momento que minha dentista me disse: “Não existe verdade absoluta, a verdade é sempre relativa. Você pode defender a sua opinião, mas não pode impor a sua opinião como verdade.” Just perfect!

Hoje foi dia de ortodontia. Minha dentista, gente boníssima, mineira daquelas que sempre te recebem com um sorriso no rosto, estava com um semblante mais sério e rugas na testa – envolvida nos problemas amorosos dos filhos. “Filhos criados, problemas dobrados”, ela me disse. “Ainda mais filho homem”, completou, me fazendo refletir quais problemas Frederico poderia me trazer no futuro, rsrsrs. E durante alguns minutos de filosofia, entre equipos e aberturas de aparelhos, ela me presenteou com sua sabedoria e tagarelou muitas coisas que se encaixam e fazem todo sentido para o momento que ando vivendo. E o consultório, num passe de mágica, transformou-se num acolhedor ambiente para terapia. E as histórias – dos seus filhos e de tantas outras pessoas que conhecemos – foram vindo e me fizeram recordar muitas outras tantas estórias incríveis de amor que conheço.

Entre as que vos relato, está a que ela me presenteou nesta manhã. As outras, também verídicas, são de pessoas próximas. Todas elas são tão inacreditavelmente belas que ainda hoje me questiono porque será que este grande piadista – o autor deste estranho livro da vida – faz seus personagens percorrerem as maiores distâncias para enfim alcançarem a tão sonhada felicidade...



Ela abriu a porta e saiu de casa com a roupa do corpo, pra nunca mais voltar. Um passo enorme para os seus trinta e poucos anos de menina, mas ela não podia conviver mais com aquela infelicidade, com a vontade não correspondida de ser mãe, com o egoísmo e a visão individualista do outro. Foi o mais doloroso e difícil passo em direção a sua felicidade, mesmo ela ainda não sabendo. E foi naquele mesmo ano que ele, cansado de procurar o amor e não achar, cansado da frustração de não amar, decidiu visitar a cidadezinha no interior do Mato Grosso onde havia passado a infância, enquanto ela iria passar o carnaval na Chapada. E o destino – aquele piadista da introdução deste post - os coloca lado a lado no avião, e a faz sentar por engano no lugar dele. Somente aquele trecho de um curto bate-papo, e uma despedida sem muita informação durante a conexão, e veio a vontade de ficar mais, de saber mais, de estar mais, perdida naqueles olhos verdes. Acabava ali aquele devaneio - seria humanamente impossível se encontrarem novamente. Mas, como a tecnologia age (quase sempre) em favor da humanidade, a amiga que a acompanhava naquela que seria quiçá a viagem mais importante da sua vida, o encontra na comunidade do Orkut que levava o nome daquela cidadezinha do interior do Mato Grosso... E após as investidas e a inquietude dessa amiga, pós-graduada naquele cursinho de cupido por correspondência, eles finalmente se encontram... e se apaixonam...
Pode-se perceber a força daquele amor novo tão sereno, embalado pela canção daquela estória inimaginável, enquanto os dois deslizam pra fora da capela onde foi celebrado o casamento. E ainda, depois de algum tempo, aquela felicidade conquistada – que começou de forma tão dolorosa com aquele primeiro passo – continua estampada no seu rosto de menina, enquanto embala um gordo bebezinho com nome de anjo que distribui sorrisos pra todos que passam...
 
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Eles eram iguais. Se não iguais, bem parecidos. Custaram a perceber isso. Viveram muitos anos lado a lado, compartilhando apenas aquela afinidade invisível e incomum que une os iguais. Cada um com seus projetos de vida, suas concretizações e seus amores. Não havia nada além daquela invisível sintonia, quando de repente, como um fio desencapado que desencadeia um curto-circuito, se perceberam. Foi apenas um toque e um olhar – olhar verdadeiro, daqueles de fundo de olho – pra entender o quanto sempre se pertenceram. E a presença de um na vida do outro foi algo tão incrível, tão perfeito, tão forte e tão intenso, que mesmo durante aquele curto tempo, aquele amor foi capaz de destruir tudo o que existia em volta: convicções, casamentos, noivados, estruturas, amizades, projetos... Por isso mesmo o amor deles não era possível. Não podia ser. Ela, se não foi por covardia, foi por coragem, fugiu... e foi viver sua vida, onde foi feliz, se casou, teve filhos... ele também se reconstruiu e seguiu adiante. Cada um deu seu jeito de anular o que havia acontecido, até que toda aquela fúria fosse esquecida em suas lembranças. Ela, na urgência de esquecê-lo, havia recorrido ao ódio. Ele havia apenas a deixado cair no esquecimento...
Foram necessários dez anos de ausência pra que um dia nosso autor resolvesse que já era o bastante - aquela estória que havia sido tão verdadeira e mal escrita deveria ter um final mais decente. Não era possível que um amor com aquela intensidade tivesse seu triste fim fadado ao fundo de uma gaveta.
A princípio, não havia esperança nem intenção de se encontrarem novamente. O que se buscava era apenas aquele link perdido. Mas estavam ali, lado a lado como nos velhos tempos. A alegria de estarem juntos novamente, sem rancores, sem dores, sem traumas, trouxe de volta aquela magia que existia no começo – em que eram somente iguais, e compartilhavam aquela afinidade invisível e incomum que une os iguais. E depois daquilo surgiu uma ânsia – ânsia de saber do outro, ânsia de viver em segundos tudo o que não viveram em dez anos, ânsia pra saber dos dez anos de vida do outro que perderam, naqueles poucos momentos juntos.
Mas agora eram somente os dois. Ele se queixava da solidão dos últimos anos. Ela se perguntava do porquê da sua vida não ter dado certo, mesmo com todo o afinco por ela investido.  
E lá estavam sós. Somente os dois e a lua, como testemunha.
E novamente, foi necessário somente um toque e um olhar - olhar verdadeiro, daqueles de fundo de olho – pra entender e aceitar – finalmente – o quanto sempre se pertenceram.
 
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Ele dizia, desde a adolescência, que não se casaria com nenhuma outra, a não ser ela. A família dela - tradicional, riquíssima - ao contrário, achava que ele nunca serviria. Namoraram aquele amor infantil e adolescente. Amavam-se, de forma imatura, ciumenta, egoísta, mas se amavam, era fato. Era um amor de amadurecimento, daqueles que deveriam durar uma vida. Ele chegou a largar os estudos no exterior por ela. Ela fazia tudo por ele. Ao se formar, ele queria ir pra São Paulo. Ela achava que ele deveria ficar por ali. Ele dizia que ali não havia campo pra sua profissão. E em meio a tanta incompreensão e desavenças, mesmo sabendo que o amor dos dois era incontestável, se separaram. Resolveram, após tanto tempo, cada um seguir com sua vida.
Nesse ínterim, ele conheceu a outra. Que o amava também – amava tanto que esquecia de si mesma. Amava tanto que vivia somente pra ele, pra cuidar dele, pra ser dele. Mas ele, apesar de aceitar aquele amor incondicional da outra, só pensava nela. Foi pouco tempo com a outra, porque seu coração, no fundo, no fundo, só batia por ela. Decidiu que tentaria mais uma vez.
Estava tudo combinado. A outra iria embora – sempre soubera não ser dona do seu coração – mas pediu uma noite de despedida. No dia seguinte, ela voltava pra ele, decidida a romper com a família se fosse preciso, pronta pra fazer de tudo pra conquistar de vez a sua felicidade. Aí, o destino, autor desta estória, teve uma grande idéia: durante aquela mesma semana, entre despedidas e chegadas, a outra ficou grávida. 

Ela também.
A família dela - tradicional, riquíssima - achou aquilo tudo um absurdo. Agora ele serviria para ela? Porque ela estava grávida? Não, eles poderiam bancar a filha e o neto. Ele continuava não servindo.
E a outra? Tão frágil, tão dependente, tão só... Tão desprendida, sempre tão disposta a fazer tudo por ele. E assim ele ficou... Cinco anos com a outra. Na tentativa de aprender a amá-la. Na tentativa de retribuir aquele amor incondicional que ela a devotava. Mas o amor verdadeiro, daquele que fazia seu coração bater mais forte, ele sentia mesmo por ela.
Quando se deparou com a morte do pai ele se questionou sobre a solidão. Sobre o curto tempo da vida, sobre realização, sobre felicidade. E decidiu, mais uma e pela última vez, lutar por ela. Se separou da outra. Voltou, de uma vez por todas pros braços dela.
Hoje se casam. Na igreja, de véu e grinalda. Mais por vontade da família dela
- tradicional, riquíssima - que pela vontade deles. Mas se assim for necessário, será feito. Porque o amor dos dois – tantas vezes recortado, tantas vezes prometido – finalmente, poderá ser vivido plenamente.
E ele mesmo sempre havia dito, desde a adolescência, que não se casaria com nenhuma outra.
A não ser ela.  



2 comentários:

  1. Quero falar sobre este rópico, mas agora estou correndo...
    Volto aqui em breve!
    Bjs,.
    C.

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  2. Os iguais se repelem?? Balela... Se atraem, e muito!! Eis a prova!!

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